Após pedido do ministro da Justiça e Segurança PĂșblica, FlĂĄvio Dino, a PolĂcia Federal instaurou inquérito para apurar os responsĂĄveis pela crise humanitĂĄria na Terra IndĂgena Yanomami, nesta quarta-feira, 25. Serão investigados crimes de genocĂdio, omissão de socorro, crimes ambientais e peculato. A investigação tramitarĂĄ em Roraima, sob sigilo. A determinação de Dino veio após o Ministério da SaĂșde declarar emergĂȘncia em SaĂșde PĂșblica no território ao detectar e resgatar pessoas que estava vivendo em casos severos de desnutrição e malĂĄria. Em ofĂcio encaminhado com diretor-geral da PolĂcia Federal, Andrei Augusto Passos Rodrigues, o ministro ressalta o histórico de negligĂȘncia com a comunidade indĂgena, cita os direitos fundamentais e fala da responsabilidade do governo para proteger os povos e garantir sua integridade. "O Estado deve zelar para que sejam colocados à disposição dos povos indĂgenas serviços de saĂșde adequados", inicia o documento.
FlĂĄvio Dino citou informações recebidas pelo Executivo de que 570 crianças yanomamis menores de cinco anos morreram por falta de assistĂȘncia médica nos Ășltimos quatro anos, consideradas "mortes evitĂĄveis" e também menciona os 21 ofĂcios enviados ao governo anterior com pedidos. "Mortes por desnutrição ou por doenças tratĂĄveis, pouco ou nenhum acesso aos serviços de saĂșde, medidas insuficientes para a proteção dos Yanomami, além do desvio na compra de medicamentos e de vacinas destinadas a proteção desse povo contra a COVID-19, conduzem a um cenĂĄrio de possĂvel desmonte intencional contra os indĂgenas Yanomami ou genocĂdio", cita o titular do Ministério da Justiça no ofĂcio. Em outro trecho, Dino afirma que os reiterados pedidos de ajuda ignorados frisam a possĂvel intenção de "causar lesão grave à integridade ou mesmo provocar a extinção do referido grupo originĂĄrio".
Procuradores do Ministério PĂșblico Federal (MPF) afirmaram na segunda-feira, 23, que a situação de saĂșde dos indĂgenas yanomami foi causada pela omissão do Estado brasileiro na proteção das terras indĂgenas. A conclusão estĂĄ em uma nota pĂșblica divulgada pela Câmara de Populações IndĂgenas e Comunidades Tradicionais do MPF, que fez um relato histórico do trabalho realizado na Terra IndĂgena Yanomami, localizada em Roraima. De acordo com a nota, apesar dos esforços feitos pelo órgão, as providĂȘncias tomadas pelo governo foram limitadas. "No entendimento do Ministério PĂșblico Federal, a grave situação de saĂșde e segurança alimentar sofrida pelo povo yanomami, entre outros, resulta da omissão do Estado brasileiro em assegurar a proteção de suas terras. Com efeito, nos Ășltimos anos verificou-se o crescimento alarmante do nĂșmero de garimpeiros dentro da Terra IndĂgena Yanomami, estimado em mais de 20 mil pela Hutukara Associação Yanomami", declarou o órgão. A nota cita ainda deficiĂȘncia na oferta de serviços de saĂșde, falta de distribuição de remédios e a presença de garimpeiros na região como fatores que contribuĂram para a situação.
Deputados do PT na Câmara protocolaram uma representação criminal no MPF contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e a senadora e ex-ministra dos Direitos Humanos, Damares Alves (Republicanos), por suspeita de crime de genocĂdio contra os povos Yanomami em Roraima. De acordo com a representação dos parlamentares, houve ação ou omissão dolosa do ex-presidente e outros integrantes do governo que "contribuiu de maneira decisiva para a contaminação dos rios por mercĂșrio" com impactos diretos na alimentação e condições de saĂșde dos indĂgenas que "sobrevivem nas ĂĄreas onde não deveria haver garimpos, legais ou ilegais". Damares rebateu crĂticas à atuação do governo federal em uma série de postagens na sua rede social. Ela disse que seu ministério entregou o Plano Nacional de Enfrentamento a ViolĂȘncia Contra Crianças, inclusive "reconhecendo a desnutrição como uma das mais terrĂveis violĂȘncias contra elas, propondo ações". JĂĄ o ex-presidente Jair Bolsonaro chamou a acusação de "farsa da esquerda". "De 2019 a novembro de 2022, o Ministério da SaĂșde prestou mais de 53 milhões de atendimentos de atenção bĂĄsica aos povos tradicionais, conforme dados do Subsistema de Atenção à SaĂșde IndĂgena do SUS, o SasiSUS", declarou.
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