Nesta semana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez a primeira viagem internacional do seu terceiro mandato. Inicialmente na Argentina e depois no Uruguai, o chefe do Executivo brasileiro retomou a participação do país na Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), oficializando a reaproximação comercial com as nações da região, intensificando inclusive o apoio do Brasil a projetos de infraestrutura em outros países, como defendeu que ocorra com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, agora presidido pelo ex-ministro Aloizio Mercadante, homem de confiança de Lula: "Porque é isso que os países maiores têm que fazer, tentando auxiliar os países que têm menos condição em determinado momento histórico". Além disso, o mandatário defendeu a criação de uma moeda única para transações exclusivas na América do Sul, diminuindo a influência do dólar na região. Lula falou sobre o tema em discurso que fez em Buenos Aires e também chegou a lançar uma carta junto do presidente da Argentina, Alberto Fernández.
As declarações e intensões de Lula repercutiram entre aliados e parlamentares de oposição no Congresso Nacional. O senador Eduardo Girão (Podemos-CE) critica a ideia de o BNDES custear obras no exterior. "Isso não é correto. Inclusive, tenho um projeto de lei para proibir isso. Já dei entrada. Isso precisa ser deliberado, para, enquanto houver fome no nosso país, que o Brasil não mande dinheiro a outros países, ainda mais ditaduras. Acho que o Brasil, inclusive, sujou suas mãos de sangue, o brasileiro indiretamente, por ter tido o governo do PT mandando o nosso dinheiro para financiar projetos em países ditatoriais, tirânicos", disse ao site da Jovem Pan. O senador Fabiano Contarato (PT-ES), que será líder do PT no Senado, afirma que, com a iniciativa, "o presidente Lula restaura e lidera uma agenda diplomática extremamente produtiva e estratégica para o Brasil e os demais países da América Latina". "Lula retoma um alinhamento sul-americano de forte repercussão global e impacto na governança internacional, considerando nossa participação no comércio mundial e nossos valores democráticos e civilizatórios", acrescenta.
Oposição
Senador Eduardo Girão (Pode-CE), 2° vice-líder do bloco parlamentar Juntos pelo Brasil:
"O diálogo é um caminho importante, desde que seja feito forma republicana e sem interesses escusos. A ideologia não pode ofuscar essa relação. Como a gente viu no passado do PT, mandando o dinheiro suado do contribuinte brasileiro, do pagador de impostos, cidadão do nosso país, a fundo perdido, para países alinhados ideologicamente com eles. Isso não é correto. Inclusive, tenho um projeto de lei para proibir isso. Já dei entrada. Isso precisa ser deliberado, para, enquanto houver fome no nosso país, que o Brasil não mande dinheiro a outros países, ainda mais ditaduras. Acho que o Brasil, inclusive, sujou suas mãos de sangue, o brasileiro indiretamente, por ter tido o governo do PT mandando o nosso dinheiro para financiar projetos em países ditatoriais, tirânicos. E que deram como garantia charuto, por exemplo, no caso de Cuba. Foi um desrespeito com o brasileiro, e a gente espera que esse governo não cometa o mesmo erro. Mas a gente já vê um pouco com preocupação esses movimentos, porque a gente sabe que o viés é ideológico"
Deputado Sanderson (PL-RS):
"Cogitar uma moeda única com a Argentina é uma verdadeira irresponsabilidade, mesmo sabendo que Lula e seus asseclas não são chegados à palavra "responsabilidade". Imaginar o Brasil em uma sociedade monetária com um país falido como a Argentina é uma insanidade sem precedentes que não dá para permitir. Óbvio que a Argentina tem todo o interesse, tem o maior interesse em ter o Brasil como lastro econômico, como seu avalista. Qualquer coisa, terá seu Brasil ali como seu fiador, que pagará suas contas. O Brasil e os brasileiros não vão trabalhar e produzir para pagar conta para os argentinos ou para a Venezuela ou para Cuba ou para Nicarágua. Entregamos um país forte, pujante, com contas equilibradas, enquanto a Argentina é o contrário, totalmente desequilibrada, com 95% de inflação, investidores fugindo, desemprego recorde, 40% da população da Argentina na miséria. Tudo por conta de uma gestão esquerdista, deletéria, que, onde exerce poder, destrói tudo em sua volta. Já estamos nos organizando na Câmara dos Deputados para fazer uma oposição forte, inteligente e incansável para barrarmos essa proposta e outras insanidades que Lula e sua turma pretendem levar adiante no Brasil".
Deputada Bia Kicis (PL-DF), ex-presidente da CCJ da Câmara:
"Não tem como o Brasil puxar a economia falida da Venezuela, Argentina e outros países da América Latina. O que está na cara é que o Brasil será rebaixado, será um retrocesso grandioso, após tantas conquistas no governo do Bolsonaro. O governo Bolsonaro engordou o porquinho. O governo Lula irá fatia-lo, e não é para que os brasileiros se sirvam dele", disse a parlamentar ao site da Jovem Pan. Kicis também usou as redes sociais para criticar a ideia de moeda única para transações na América do Sul. Segundo ela, "vamos financiar dívida de mal pagador, ter a economia toda indexada ao dólar e afugentar investimentos" com a medida. A parlamentar ainda ironizou a situação fazendo uma comparação da valorização econômica a partir do real: "Da moeda que mais valorizou dentre os países emergentes ao prenúncio do caos".
Situação
Senador Fabiano Contarato (PT-ES), líder do partido no Senado:
"O presidente Lula restaura e lidera uma agenda diplomática extremamente produtiva e estratégica para o Brasil e os demais países da América Latina. Temos imensos desafios e potencialidades que permitem o trabalho multilateral, a troca de experiências e a busca por soluções de ordem econômica que valorizem nossos recursos e nossas reservas. Como já fez em seus governos anteriores, o presidente Lula retoma um alinhamento sul-americano de forte repercussão global e impacto na governança internacional, considerando nossa participação no comércio mundial e nossos valores democráticos e civilizatórios".
Senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), líder do governo Lula no Congresso:
Líder do governo Lula no Congresso Nacional, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) utilizou as redes sociais para defender a ideia de Lula. Para o parlamentar, a reaproximação do Brasil com outros países da América Latina é uma forma de "reconstruir a imagem do Brasil" perante o mundo. "O presidente Lula está na Argentina em um passo importante para avançar nas relações internacionais e para o desenvolvimento do Brasil. Com diálogo e diplomacia, vamos reconstruir a imagem do nosso país com o mundo", escreveu o senador no Twitter.
Deputada Maria do Rosário (PT-RS), cotada para mesa diretora da Câmara:
Cotada para representar o PT na disputada por uma vaga na mesa diretora da Câmara dos Deputados, a parlamentar também se pronunciou sobre a primeira viagem internacional de Lula. Segundo ela, o estreitamento diplomático entre os países foi fragilizado pelo governo Bolsonaro, encerrado em 2022. E a retomada dessas relações de maneira estratégica levaria o país a uma posição de "potência internacional": "Em visita a Buenos Aires, o presidente Lula reforça o compromisso diplomático do Brasil. Voltaremos a ser a potência internacional que um dia fomos, trabalhando junto de outras nações em defesa das democracias, dos direitos humanos, da proteção dos recursos naturais".
Jovem Pan