"Dólar tem todas as condições de ficar abaixo de R$ 5", projeta ex-secretário da Fazenda de SP

O economista comentou a queda de braço entre Lula e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e deu sua opinião sobre o atual panorama econômico do Brasil

Por Trago Verdades em 14/02/2023 às 10:47:28

Waldemir Barreto/Agência Senado

Nesta semana, o Conselho Monetário Nacional (CMN) se reúne pela primeira vez em 2023 pressionado pelo governo para mudar a meta de inflação. Nesta segunda-feira, o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, afirmou ser contra a revisão e indicou que o Brasil vai caminhar no rumo certo se a equipe econômica continuar buscando reformas e um novo modelo para assegurar as contas públicas. Para falar sobre o atual panorama econômico, o Jornal da Manhã, da Jovem Pan News, entrevistou o ex-secretário da Fazenda de São Paulo, Felipe Salto. O economista-chefe da Warren Rena elogiou a postura do presidente do BC e apontou que, em relação à taxa Selic, por exemplo, outros fatores influenciam sua manutenção além da atuação do banco: "Quando o dólar fica muito mais caro, tudo o que agente consome de bens finais importado fica mais caro, tudo o que a indústria consome de componentes para produzir e vender aqui dentro fica mais caro. Por isso que o dólar também é uma variável fundamental".

"Quando você começa a desanuviar esse quadro de fricções que são naturais entre o Banco Central e as outras áreas do governo, isso tudo vai melhorando. O dólar tem todas as condições de ficar abaixo de R$ 5, se a agenda fiscal continuar a avançar. É preciso dizer, a própria ata do Conselho de Política Monetária reconhece corretamente o valor do pacote fiscal anunciado em janeiro. Na minha conta, aqui na Warren Rena, nós temos um efeito estimado do pacote e da arrecadação anunciados em janeiro da ordem de R$ 64 bilhões nesse ano", explicou. Para Salto, as declarações de Campos Neto para amenizar o clima com o presidente Lula (PT) vão na direção correta: "Achei que o Campos Neto foi muito bem. Ele é muito técnico, foi escolhido por essas razões, tem desempenhado um papel muito importante (…) Ele fez um gesto, acho que corretamente, para fazer valer a lei da independência do Banco Central e explicou o que é a independência".

A respeito da reunião do CMN, o ex-secretário da Fazenda de São Paulo não descartou a possibilidade de uma revisão na meta de inflação: "Não é pecado venial, nem pecado mortal, você mudar a meta de inflação. O importante é, feito isso, que as expectativas de inflação convirjam para patamares baixos e razoáveis de inflação no próximo ano, nos dois anos seguintes principalmente. Hoje, o que a gente vê é que o mercado, se olhar a pesquisa Focus, houve um pouco uma subida nas projeções de inflação, mas em um patamar razoável. Acho que feito esse apagar de incêndios, essa água que o Campos Neto colocou na fervura e mais os posicionamentos do ministro Fernando Haddad que, é preciso registrar, tem sido bastante ponderado, isso vai ajudar para que haja uma maior interlocução e sintonia entre o lado monetário e o lado fiscal da política econômica, como deve ser".

O economista também comentou a queda de braço entre Lula e Roberto Campos neto a respeito da manutenção da taxa Selic em 13,75% e projetou que o indicador pode passar por um ciclo de queda a partir do segundo semestre: "Nesse caso o presidente Lula tem todo o direito de falar de economia e juros. Se você olhar o histórico, outros presidente faziam isso e ministros da área política de outros governos mais a esquerda e mais à direita. A questão é, o Banco Central tem que continuar a fazer o seu trabalho independentemente dessas declarações. A política também tem esse lado de sinalizações para os eleitores, para a base. Mas, como a gente sabe, a taxa de juros é uma resultante de diversas forças"

"Eu entendo que, no segundo semestre, se a gente conseguir avançar até o fim do primeiro semestre com a regra fiscal mais as boas discussões que estão avançando e sendo endereçadas no Congresso no âmbito da reforma tributária, tudo isso pode colaborar para que agente tenha uma Selic mais baixa, talvez até um início de ciclo de redução, nessas condições que nós estamos discutindo aqui, no segundo semestre. Isso é positivo para a economia, todos queremos juros mais baixos. Porque os juros mais baixos facilitam o investimento, barateia o crédito, não só para investimento mas para consumo, e ajuda a economia a se recuperar. Esse é um ano de baixo crescimento, isso já estava contratado desde o ano passado, a dívida pública sobe nesse ano, mas com a casa organizada fica mais fácil passar por esse período de agruras", argumentou.

Apesar dos ataques feitos por Lula ao BC, Felipe Salto destacou que a atuação da equipe econômica, comandada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem dado sinais importantes de que vai dar conta da questão fiscal brasileira: "Sem o fiscal organizado, nós não vamos a lugar algum. Nessa matéria, no fim da semana passada houve também duas boas sinalizações. Dois secretários do ministro da Fazenda Fernando Haddad, me refiro ao secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, e o secretário de Política Econômica, Guilherme Mello, indicaram que o teto de gastos será modificado, mas haverá uma regra para as despesas, e que eventualmente excessos de arrecadação poderão ser utilizados para que, em um modelo mais flexível, você possa ter um gasto adicional quando houver esse excesso de arrecadação. Isso vai na direção das boas regras fiscais, do que a literatura recomenda e o Fundo Monetário Internacional".

"No meio de toda essa fumaça, de todo esse ruído, acho que nós temos que fazer uma leitura de que o governo ganha uma possibilidade de ter um fôlego para fazer uma boa conformação de política econômica. É preciso ter essa regra fiscal para que a gente consiga coordenar as duas coisas, para que as expectativas de mercado não se desancorem. Ontem, o Campos Neto, presidente do Banco Central, falou algo muito salutar que eu acho que nem todos tem presente. A Selic não é o juros que importa no fim do dia, porque ela é uma referência. Se a Selic está em 13,75%, como está hoje, só que os juros longos, como a gente chama para prazos diferentes, começam a subir, não adianta eu diminuir pela metade a Selic, por exemplo, porque esses juros longos só vão aumentar ainda mais. O mercado precifica risco, precifica a incerteza. Vamos ver a partir de agora, com essas sinalizações de cada lado, como é que as coisas vão caminhando", detalhou. Confira a entrevista completa no vídeo abaixo.

Fonte: Jovem Pan

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