O deputado federal Alessandro Molon(PSB-RJ) banca sua inédita candidatura ao Senado em detrimento de um acordo partidário, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva(PT) expressa preferência por outro postulante ao cargo público – desidratando sua corrida eleitoral – e o Partido dos Trabalhadores (PT) costura uma alternativa à eleição do professor. Embora o resumo acima possa definir a situação atual de sua postulação à Casa Alta do Congresso Nacional na chapa do também deputado federal Marcelo Freixo (PSB-RJ) – que, pela primeira vez, disputa o comando do Palácio Guanabara –, a frase se equipara de maneira equivalente à disputa pela prefeitura do Rio de Janeiro em 2008, quando o político ainda encontrava-se filiado à sigla petista. Em uma coincidência histórica, Molon vive, no melhor momento da sua carreira política – eleito deputado federal com o terceiro maior número de votos pelo eleitorado carioca com quase 230 mil votos e ocupando a cadeira da presidência do diretório estadual do Partido Socialista Brasileiro (PSB) no Rio –, situação semelhante a experimentada no início de sua trajetória na vida pública.
Após uma filiação ao maior partido de esquerda do país em 1999 e duas eleições bem sucedidas ao cargo de deputado estadual (a primeira em 2002, como 19º mais bem votado e 52.049 votos; a segunda em 2006, como o candidato mais votado do PT ao cargo, sendo 85.798 eleitores), Molon lançou-se à disputa do comando da cidade do Rio de Janeiro mesmo sendo um político relativamente desconhecido já que teve em sua reeleição quase 65 mil votos na capital. A título de comparação, nas eleições para a prefeitura do Rio em 2004, os cinco primeiros colocados obtiveram mais de 200 mil votos. Por trás da candidatura de Alessandro, havia um acordo entre PT e PCdoB que envolvia as eleições municipais nas capitais paulista e fluminense. No acordo entre as legendas e a pedido do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), havia o entendimento de que o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Aldo Rebelo (PCdoB), aceitaria disputar a prefeitura de São Paulo como vice na chapa da ex-prefeita e ex-ministra do Turismo Marta Suplicy (PT). Em contrapartida, o petista faria o caminho inverso e abriria mão de sua candidatura para ser vice da chapa de Jandira Feghali (PCdoB).
Em São Paulo, o acordo se cumpriu e Marta e Rebelo caminharam juntos na chapa. Já no Rio, Molon bancou sua candidatura e Jandira precisou buscar um nome para seu vice no PSB, que integrava sua coligação. Em entrevista ao jornal O Globo, em 20 de junho de 2008, o então presidente do diretório do PT-RJ, Ricardo Berzoini, afirmou que o ideal teria sido uma "troca de apoio" em referência a uma dobradinha com o PCdoB no eixo São Paulo-Rio, mas que "não foi possível". "Mas vamos manter uma relação amistosa para, no segundo turno, ter um bom ambiente para composições. Reverter isso, seria um prejuízo para o partido, por mais que se entenda o esforço do presidente Lula", confessou. Já Molon evitou falar sobre a pressão do então mandatário do país e rechaçou deixar a corrida ao comando do Rio: "Está fora de cogitação qualquer possibilidade de a nossa candidatura ser retirada". Mesmo com a opinião contrária de Lula, o PT optou por homologar a sua candidatura.
Além da preferência de Lula pela candidatura de Jandira Feghali, havia uma dualidade na corrida eleitoral. Isso porque Molon aparecia em suas propagandas eleitorais gratuitas em cadeia nacional de rádio e televisão com o slogan "13 é Molon e Lula lá". A tentativa era de reforçar o elo entre o deputado estadual com o presidente da República. O contrário, porém, não acontecia. Nas inserções em que Lula aparecia aos eleitores cariocas, o então chefe do Executivo ostentava feitos do governo federal, mas não mencionava o nome de Molon tampouco sua candidatura. Em uma das propagandas eleitorais do PT, inserida na semana do dia 15 de setembro de 2008, Lula foi às telas para repassar o seguinte discurso: "Hoje temos muito mais empregos, com mais salários, tudo fortemente para que o Brasil cumpra o seu papel. Vamos continuar com inflação baixa. Se o prefeito de sua cidade tiver afinidade com o governo federal, saberá usar esses recursos para melhorar a habitação, a saúde, a educação e a cultura". Molon foi deixado de lado, terminou a corrida à prefeitura do Rio como quinto colocado, com 162.926 votos, cerca de metade do contingente conquistado por Feghali, que obteve 321.012 votos válidos.
Escolhido como o candidato à Câmara Alta pela convenção nacional do Partido Socialista Brasileiro do Rio de Janeiro em convenção partidária, Molon foi um dos primeiros a registrar sua corrida ao Senado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Ao bancar sua candidatura na chapa de Marcelo Freixo (PSB-RJ), que concorre ao governo carioca, o político foi acusado pelo Partido dos Trabalhadores de ferir um acordo entre os partidos que se coligaram em torno da campanha de Freixo e no plano nacional – o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSB) foi escolhido para o posto de vice-presidente na chapa de Lula. De acordo com o arranjo, o PT teria a indicação do candidato que disputaria uma cadeira no Senado Federal. No início do mês, a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, cobrou a cúpula do PSB para que o acordo fosse cumprido e ressaltou que o único candidato que será apoiado por Lula ao Senado será o de André Ceciliano, presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). "Vamos dar oportunidade ao PSB cumprir o acordo político. Para nós é muito importante. Não é contra Molon. Isso tem a ver com estratégia política", resultou a deputada federal.
Já Molon, negou a existência da costura e afirmou que levará sua candidatura até o fim – tal qual nas eleições para a prefeitura do Rio em 2008. "Eu quero deixar claro que nunca houve acordo entre PT e PSB para deixar o PT concorrer ao senado. Eu nunca participei de acordo para que isso acontecesse", disse em entrevista coletiva no dia 4 de agosto. Na última pesquisa de intenção de voto para o Senado no Rio de Janeiro realizada pelo Ipec (ex-Ibope), divulgada no dia 21 de julho, Molon encontra-se em terceiro lugar com 9% da preferência do eleitorado, atrás apenas de Marcelo Crivella (PRB), com 11%; e Romário (PL) – candidato a reeleição, com 30%. André Ceciliano, candidato escolhido pelo Partido dos Trabalhadores, está em sexto colocado na pesquisa eleitoral tem 4% da intenção dos votos. Apesar do baixo desempenho de Ceciliano, a cúpula do PT acredita que o apoio de Lula poderá turbinar sua campanha. Além disso, dirigentes petistas defendem que o comandante da Alerj dá a Lula entrada (e votos) na Baixada Fluminense, região dominada politicamente pelo governador do Estado, Cláudio Castro (PL).
Até a publicação desta reportagem, a chapa de Marcelo Freixo ao governo do Estado do Rio de Janeiro irá contar com dois candidatos ao Senado: Alessandro Molon e André Ceciliano. Pessoas ligadas ao postulante do Palácio Guanabara ouvidas pela Jovem Pan relatam que, embora a situação seja complexa, já que Molon é um nome do partido e Ceciliano, da coligação, a campanha não deverá optar por um nome em específico e pretende elaborar um protocolo para "definir regras sobre como funcionará a campanha com ambos". Já interlocutores do diretório do PT no Rio de Janeiro afirmam que não há a possibilidade da sigla abrir mão da corrida de Ceciliano ao Senado. Questionados sobre a falta de tração nas pesquisas, o tom da sigla é de que a propaganda eleitoral gratuita nas rádios e nas televisões, que terá inicio oficialmente dia 26 de agosto e irá até 30 de setembro, irá impulsionar a corrida do petista ao mostrar "à população fluminense que ele é o único candidato ao Senado do presidente Lula". Ponto importante a ser ressaltado é que, nas eleições deste ano, apenas um representante da população carioca será eleito senador pelo Rio de Janeiro.
Fonte: Jovem Pan