A Petrobras prevê uma série de reduções no preço dos combustíveis, mas motoristas e empresários esperam uma queda mais significativa no valor dos produtos nas bombas. Sobre a expectativa de alívio no bolso do consumidor final, o Jornal da Manhã, da Jovem Pan News, entrevistou Rodrigo Zingales, que é presidente da Associação Brasileira de Revendedores de Combustíveis Independentes e Livres (AbriLivre). Sobre a questão do alto valor do diesel, apesar das sucessivas reduções da petroleira, o economista culpa a gestão da estatal pela falta de investimento em refinarias: "A Petrobras deixou de investir no refino nos últimos 5 ou 6 anos. Em termos de diesel, a Petrobras consegue abastecer um pouco menos de 80% de toda a demanda brasileira. Ou seja, precisamos ter importação de diesel. Hoje, a Petrobras não têm importado muito diesel, essa importação acaba sendo feita pelas empresas privadas, que estão pagando diesel a preços internacionais. O preço deu uma queda nas últimas semanas, mas esse preço acaba gerando um inflacionamento do preço do diesel. A Petrobras acaba seguindo o preço internacional do diesel e não fazendo seu preço de custo".
"Uma outra medida para o diesel cair é a Petrobras assumir essa importação de 20% da demanda brasileira e fazer o preço do diesel, assim como da gasolina, baseado no mix do custo de produção dela mais o preço de importação. A gente acredita que, se fosse feita uma política nessa linha, a gente teria uma redução. Com o preço do petróleo internacional girando entorno de US$ 100, o preço do mercado interno poderia chegar a US$ 60, US$ 65 o barril do petróleo, se adotasse essa política", argumenta Zingales. Para o especialista em combustíveis as medidas de redução de impostos sobre os combustíveis não afetaram o diesel porque o valor praticado era acima da média, entretanto as reduções feitas pela Petrobras devem aliviar o bolso do consumidor final em breve: "É importante destacar a questão do diesel para os caminhoneiros. A medida tributária gerou impacto zero no preço do diesel porque o preço do diesel da Petrobras estava acima do preço médio do PMPF [Preço Médio Ponderado ao Consumidor Final] de 60 meses. A alíquota, que na maioria das vezes era abaixo de 18%, não impactou no preço do diesel. Não houve para o diesel a redução do combustível. Muita da queda da tributação ainda não repassada para os postos. As distribuidoras têm um mercado bastante concentrado e não repassaram integralmente a redução dos tributos. Então se a as distribuidoras repassarem a integralidade da redução de tributos, certamente a expectativa é que caia o preço nos postos e, consequentemente nas bombas".
O economista também defende uma maior regulamentação dos contratos das distribuidoras. A medida teria o objetivo de aumentar a previsibilidade e transparência dos preços praticados: "Hoje, praticamente 60 a 70% de toda a oferta de combustíveis está na mão de três grandes distribuidoras que têm contratos de exclusividade com os postos de combustíveis. A primeira posição nossa é a regulamentação desses contratos, porque esses contratos não trazem um preço de compra para o posto. As distribuidoras estão livres para discriminar preços. Então, o posto de uma bandeira X acaba com um preço mais caro do que outro posto de uma mesma bandeira X. Por isso a regulamentação de contratos por meio de criação de cláusula de preço, onde há a previsibilidade de quanto o posto vai pagar é fundamental. Além disso, a transparência nos preços das distribuidoras também é ouro ponto muito importante. Com transparência, o Estado consegue verificar se há, ou não, essa discriminação, que comumente aumenta o preço".
Por fim, Zingales criticou novamente a diretriz da Petrobras de priorizar a extração, em detrimento do refino. Contudo, o economista descartou a hipótese de que casos de corrupção nas refinarias tenham sido determinantes para o aumento de preços da petroleira: "A corrupção gerou um problema gravíssimo na Petrobras e no Brasil. Em relação ao refino, eu entendo que foi uma mudança da política interna da Petrobras, ela passou a investir mais na exploração do petróleo e deixou o refino um pouco de lado. Acho que a questão da corrupção pouco teve a ver com isso, foi muito mais uma decisão estratégica dos acionistas de focar na exploração e extração do petróleo, do que propriamente no refino. Na minha visão como economista e brasileiro, foi um erro. O que o brasileiro compra é gasolina e diesel, então deveria ter trabalhado para aumentar a oferta de gasolina e diesel para depender menos do combustível importado".
Fonte: Jovem Pan