União Brasil impõe dor de cabeça ao governo Lula, mas manutenção de ministros envolvidos em denúncias, é bem vista por cúpula da sigla

Partido recebeu ministérios, reivindicou independência do governo e se viu envolvido em denúncias que atingem quadros da legenda; presidente manteve ministros de olho em formação de base no Congresso

Por Trago Verdades em 12/03/2023 às 08:10:27

Reprodução/Facebook/União Brasil

Com pouco mais de dois meses de governo, o governo do presidente Luiz InĂĄcio Lula da Silva (PT) ainda não concluiu as negociações com partidos para consolidar a sua base de apoio no Congresso Nacional. Desde a volta do petismo ao poder, o governo busca se aproximar de legendas com alta representatividade e que possam lhe entregar votos em pautas consideradas importantes tanto na Câmara dos Deputados quanto no Senado Federal. Apesar dos esforços do PalĂĄcio do Planalto em estreitar relações com siglas que não estiveram com Lula na campanha eleitoral, os articuladores da gestão precisam, inicialmente, resolver um problema caseiro, que envolve o União Brasil, agraciado com trĂȘs ministérios: Comunicações, Turismo e Integração Nacional. Apesar dos postos de primeiro escalão cedidos, uma ala do partido não tem demonstrado intenção de votar com o governo. Mais do que isso, dois dos ministros da legenda tiveram seus nomes envolvidos em denĂșncias, o que aumentou a pressão por eventuais demissões e criou uma dor de cabeça para o presidente da RepĂșblica, que decidiu mantĂȘ-los na Esplanada. A decisão foi tomada depois que diversos interlocutores alertaram Lula do risco de rifar quadros do União no momento em que não hĂĄ base sólida no Parlamento.

Fruto da fusão entre Democratas e PSL, o União Brasil jĂĄ nasceu dividido. Desde o inĂ­cio da gestão Lula 3, o presidente nacional do partido, Luciano Bivar, se mostrou disposto a contribuir politicamente com o governo federal, apesar de cobrar, de forma pĂșblica ou nos bastidores, mais espaço na administração pĂșblica. Porém, caciques egressos do DEM, partido que historicamente esteve na oposição ao PT, não concordam com a aproximação e dizem preferir uma posição independente. Além disso, hĂĄ outros trĂȘs componentes que ajudam a explicar por que a relação do União com o governo é conturbada: primeiro, porque a sigla abriga nomes como o senador Sergio Moro (PR), ex-juiz da Lava Jato, responsĂĄvel por condenar Lula; em segundo lugar, porque quase a metade dos 59 deputados da legenda assinou o requerimento que pede a abertura de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) para investigar os atos de vandalismo do dia 8 de janeiro. O chefe do Executivo federal, vale dizer, é contra a instalação do colegiado, por acreditar que isso atrapalharĂĄ votações no Congresso e por considerar que o JudiciĂĄrio jĂĄ estĂĄ investigando o episódio de invasão; por fim, pois quadros influentes do partido, como o lĂ­der na Câmara, Elmar Nascimento (BA), disse, em mais de uma ocasião, que os nomes escolhidos por Lula para os ministérios não representavam os anseios da bancada.

Apesar disso, na Ășltima semana, Elmar e o lĂ­der do União no Senado, Efraim Filho (PB), divulgaram uma nota reagindo às declarações da presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, que havia cobrado o afastamento do ministro das Comunicações, Juscelino Filho, do cargo, para evitar "constrangimento de parte a parte". Filho é acusado de ter utilizado indevidamente recursos pĂșblicos como diĂĄrias e passagens oficiais em voos da Força Aérea Brasileira (FAB) em viagens ao Maranhão e a São Paulo – ele nega as acusações. Os correligionĂĄrios, então, afirmaram que a petista utilizava "dois pesos e duas medidas para tratar de assuntos inerentes à vida pĂșblica". "Quando atitudes dos seus aliados são contestadas –e não faltaram acusações a membros do PT na história recente do paĂ­s –a parlamentar prega o direito de defesa. Quando a situação se inverte, prefere fazer pré-julgamentos", escrevem em nota divulgada à imprensa, em mais um episódio que estremeceu a relação entre o Planalto e uma ala do partido de Bivar. A decisão de Lula de manter Juscelino e, por tabela, prestigiar o União Brasil, foi bem vista por membros do partido. Para Junior Bozzella (SP), ex-deputado federal e vice-presidente da sigla, o gesto do presidente da RepĂșblica deve ser um facilitador para futuras negociações.

Para o dirigente, a convergĂȘncia entre o União e a base governista não acontecerĂĄ "do dia para a noite", mas a manutenção de Daniela Carneiro e Juscelino Filho pode ser visto como um passo dado pelo governo para dialogar com o partido. Questionado sobre a suposta independĂȘncia do partido, Bozella pontuou que o posicionamento neutro é "relativo" e que pressupõe determinadas atitudes. "Um partido que tem independĂȘncia não pode flertar nem para um lado e nem para o outro, nem com a direita e nem com a esquerda", disse. "As futuras tratativas, as próximas conversas, dialogando com as forças do partido, acho que a tendĂȘncia é que [o União Brasil] esteja mais próximo do governo", disse. O deputado federal Danilo Forte (União Brasil-CE), por outro lado, é um dos defensores da ideia de a sigla se manter neutra em relação ao governo federal.

O lĂ­der do União no Senado, Efraim Filho, diz que o gesto de Lula de manter o nome de Juscelino à frente das Comunicações "é bem-vindo" e pavimenta o caminho para um "canal de diĂĄlogo". Na avaliação do parlamentar, ao pedir para o ministro se afastar do cargo e dizer que o União não entregaria votos ao governo, Gleisi cometeu um "equĂ­voco". "Na PEC da Transição, a Ășnica matéria relevante do governo, o União teve uma posição decisiva no resultado final. A conta é simples, o painel de votação é pĂșblico. Basta retirar os votos do União Brasil que a PEC seria rejeitada. O governo teria sido derrotado", disse ao site da Jovem Pan. Segundo Efraim, a postura de independĂȘncia dĂĄ liberdade aos polĂ­ticos que buscam compor com a base governista e também respeita aqueles que foram eleitos através de um sentimento de oposição ao governo federal. Sobre o futuro da relação entre União Brasil e PalĂĄcio do Planalto, o lĂ­der da bancada na Casa Alta do Legislativo afirmou que tende a permanecer com um diĂĄlogo aberto. "Esse é o caminho que esperamos que seja fluido", finalizou.

Fonte: Jovem Pan

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