Economista elogia atuação do Banco Central e espera que Copom mantenha a taxa de juros em 13,75%: "Melhor decisão"

O economista-chefe da XP, Caio Megale, falou sobre como tem sido a questão dos juros no cenário global e também sobre o anúncio do novo arcabouço fiscal do país

Por Trago Verdades em 21/03/2023 às 11:29:22

Bruno Rocha/Foto Arena/Estadão Conteúdo

Nesta terça-feira, 21, começa a reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom), que definirá a nova taxa básica de juros (Selic) do país, a ser divulgada na quarta-feira, 22. O mercado é praticamente unânime na avaliação de que a Selic será mantida no patamar atual de R$ 13,75%. Para falar sobre o assunto, o Jornal da Manhã, da Jovem Pan News, entrevistou o economista-chefe da XP, Caio Megale, que também acredita na manutenção da taxa: "Banco Central deve manter ainda a taxa de juros alta por um tempo, até que ele tenha certeza que a inflação de fato desacelere. Porque ela ainda está rodando acima da meta. Claro que outros fatores têm que ser colocados em conta. O mundo passa por uma incerteza no setor financeiro importante. Aqui no Brasil, nós tivemos um efeito relevante no mercado de crédito, por conta do evento das Lojas Americanas e outros eventos (…) A melhor decisão do Banco Central é manter a taxa de juros e manter as portas abertas para reagir da forma que for necessário dependendo de como evoluir o cenário".

"O Banco Central se pauta pela inflação. A inflação tem rodado em níveis altos no Brasil, no resto do mundo também, e os Bancos Centrais vem fazendo um esforço para, passados os efeitos principais da pandemia, cuidar desse efeito colateral da luta contra a pandemia, que foi a inflação mais alta. Agora os juros vem subindo, no Brasil já subiu bastante e em outros países está subindo, para justamente trazer a inflação para baixo. Os últimos indicadores ainda mostram que a inflação segue rodando em um nível perto de 6% a 6,5%. O mercado de trabalho está aquecido, as vendas no varejo, de forma geral, ainda em um nível forte e um setor de serviços muito positivo", avaliou.

O economista explicou porque o aumento das taxas de juros virou uma questão global e defendeu que os Bancos Centrais devem se manter na missão de controlar a inflação por meio deste dispositivo: "A minha avaliação é que a inflação subiu por questões de oferta e demanda. As questões de oferta estão sendo amenizadas. Por exemplo, o preço do petróleo chegou a US$ 130 com a pandemia e com a guerra, agora está mais perto de US$ 70. A gente já tem um alívio dessa questão da oferta, mas os temas de demanda continuam fortes. O mais adequado são os Bancos Centrais continuarem focando em trazer a inflação para baixo mais rápido possível, porque quanto mais tempo eles demoram, mais a inflação vai se solidificando nesses níveis, e começa aquela inflação inercial, os preços vão subindo simplesmente porque a inflação passada foi alta. Aí vai ser bem mais complicado reduzir os juros lá na frente".

"O Banco Central dos Estados Unidos vem subindo os juros lá fora. Já percebeu que a inflação era mais persistente e precisava de um reequilíbrio. Aquele remédio amargo que dá um trancozinho na economia e te faz se reequilibrar na frente. Na verdade, o nosso Banco Central aqui acordou mais cedo para o problema e fez o ajuste antes. O Brasil está à frente nesse sentido. Quando os bancos centrais começaram a subir juros, dado que o fenômeno de inflação é um fenômeno mais global, também contribuiu com o nosso esforço de reduzir pressões de preço. O Banco Central de lá vai continuar subindo os juros, em um ritmo mais devagar, porque a questão dos bancos trouxe muita incerteza (…) Acho que ele continua subindo os juros, tentando trazer a inflação para baixo, mas deixando as portas abertas, como eu acho que o Banco Central do Brasil vai fazer. Caso a crise financeira se releve muito mais profunda do que a gente consegue enxergar até agora, a política pode ser revertida rapidamente e a injeção de liquidez volta", argumentou.

O presidente Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Josué Gomes da Silva, disse nesta segunda-feira, 20, que as taxas de juros no Brasil são "pornográficas". Ele criticou os atuais valores, dizendo que são inconcebíveis e que é necessário uma redução. Caio Megale concordou que as taxas estão elevadas de fato, mas ponderou que cabe ao governo criar as condições para que o BC baixe os juros: "Não sei se pornográfico é o melhor adjetivo. Mas é uma taxa de juros muito alta, sem dúvida nenhuma. Um pouco antes da pandemia, a nossa taxa de juros estava em 4,5%, hoje está em 13,75%. Nós descobrimos a receita de como trazer a inflação para baixo e de como trazer a taxa de juros para baixo. A taxa de juros, antes da pandemia, era 4,5% e não haviam sinais de superaquecimento, não haviam sinais de inflação acelerada. E qual foi essa receita? Acho que tem a ver com a sinalização mais clara da disciplina fiscal".

"O teto de gastos trouxe previsibilidade sobre a dinâmica dos gastos públicos, que ao longo de muitas décadas cresceram de forma acelerada no Brasil, o que gera pressão por emissão de moeda, monetização e acaba gerando pressão de inflação. No momento que isso foi equacionado lá atrás as taxas de juros puderam cair significativamente. A gente precisa voltar para aquela situação das taxas de juros de 4,5%. Os juros estão muito altos no Brasil. Vamos criar as condições para que isso aconteça. O arcabouço fiscal é bastante importante, porque é o arcabouço fiscal que vai dar essa previsibilidade e essa segurança de que a dívida pública não vai ser crescente e, portanto, não vai ter o risco dos surtos inflacionários que caracterizaram a história econômica brasileira ao longo das últimas décadas", declarou. Confira a entrevista completa no vídeo abaixo.


Fonte: Jovem Pan

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