Nesta terça-feira, 9, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central publicou a ata de sua última reunião, finalizada em 3 de maio, quando o grupo decidiu manter a Selic em 13,75% ao ano. A decisão do colegiado ocorreu mesmo com a frequente pressão que tem sido feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e por aliados, que cobram cortes na taxa e criticam os efeitos dos juros sobre atividade econômica. O grupo avaliou que as expectativas de inflação seguem desancoradas das metas definidas pelo Conselho Monetário Nacional, tendo havido uma pequena deterioração na margem. "O Comitê acompanha este movimento com preocupação e segue avaliando que expectativas desancoradas elevam o custo de trazer a inflação de volta à meta. Ressaltou-se novamente que o comportamento das expectativas é um aspecto fundamental do processo inflacionário, uma vez que serve de guia para a definição de reajustes de preços e salários presentes e futuros. Assim, com a elevação de expectativas, há uma maior elevação de preços no período corrente e o processo inflacionário é alimentado por essas expectativas. Também foi ressaltado que a ancoragem de expectativas é um elemento essencial para a estabilidade de preços. Neste contexto, o Comitê reforça que decisões que induzam à reancoragem das expectativas e que elevem a confiança nas metas de inflação contribuiriam para um processo desinflacionário mais célere e menos custoso", pontuou. O comitê também indicou a necessidade de paciência e serenidade na condução da política monetária e reforçou não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado, apesar do cenário se mostrar menos provável. Contudo, ainda não houve indícios de uma possível redução da taxa de juros em um futuro próximo.
"No âmbito doméstico, o conjunto de indicadores recentes segue corroborando o cenário de desaceleração gradual do crescimento esperado pelo Comitê. Observa-se alguma moderação nos indicadores coincidentes de atividade, bem como uma desaceleração na margem no mercado de crédito. O mercado de trabalho, que surpreendeu positivamente ao longo de 2022, tem apresentado resiliência, com aumento líquido nos postos de trabalho e relativa estabilidade na taxa de desemprego", escreveu o grupo. Contudo, o colegiado avaliou que a inflação ao consumidor continua elevada e acima da meta, apesar de dados de atividade no Brasil indicam um ritmo de crescimento moderado na margem, com consumo e agronegócio impactando positivamente. "O Copom antecipa um crescimento mais vigoroso na divulgação do PIB referente ao primeiro trimestre do ano, especialmente em função da produção agrícola, seguido por moderação da atividade econômica em ambiente marcado por resiliência no mercado de trabalho. Além disso, os dados de emprego formal demonstraram continuidade no aumento do emprego no período mais recente. Alguns membros observaram que avança o movimento de recomposição parcial das perdas recentes nos salários reais. Esse movimento é esperado e vem acompanhado de desaceleração nos ganhos nominais, o que deve se acentuar à frente. Por fim, notou-se que as perspectivas de crescimento econômico não mudaram significativamente no período recente", avaliou o comitê.
Entre as mudanças desde o encontro anterior, houve a apresentação do novo arcabouço fiscal. Segundo o comitê, isso reduziu a incerteza associada a cenários extremos de crescimento da dívida pública, apesar de ressaltar que não há relação mecânica entre a convergência de inflação e a aprovação do arcabouço fiscal. "A materialização de um cenário com um arcabouço fiscal sólido e crível pode levar a um processo desinflacionário mais benigno através de seu efeito no canal de expectativas, ao reduzir as expectativas de inflação, a incerteza na economia, o prêmio de risco associado aos ativos domésticos e, consequentemente, as projeções do Comitê", afirmou o grupo. Contudo, a manutenção da taxa de juros foi baseada no riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, entre eles uma maior persistência das pressões inflacionárias globais; a incerteza ainda presente sobre o desenho final do arcabouço fiscal a ser aprovado pelo Congresso Nacional; e uma desancoragem maior, ou mais duradoura, das expectativas de inflação para prazos mais longos. O grupo também identificou um "comportamento benigno" recente nos preços de atacado, tanto na parte de alimentos quanto na parte de industriais. Em relação à trajetória de inflação ao consumidor ao longo de 2023, a expectativa é de que haja uma queda relevante na inflação acumulada em doze meses ao longo do segundo trimestre. O comitê também antecipou uma moderação na concessão do crédito ao longo dos próximos meses, mas em linha com o que se observou em ciclos anteriores de aperto de política monetária. "O Comitê avalia que a probabilidade de os cenários mais extremos de trajetória da dívida pública se reduziu, mas notou também que não houve mudança relevante nas projeções de inflação uma vez que as expectativas não se alteraram de forma significante", indicou.
O cenário internacional também foi motivo de preocupação, após vários bancos de fortes economias entrarem em crise. Contudo, os analistas avaliaram a necessidade de uma manutenção mais prolongadas das políticas monetárias e da avaliação de informações adicionais. "A conjuntura marcada por uma possível elevação das taxas de juros neutras nas principais economias, resiliência na atividade brasileira e um processo desinflacionário lento poderia ser compatível com uma medida de taxa neutra mais alta do que aquela utilizada pelo Comitê. Nessa linha de argumentação, por consequência, incorrer-se-ia em um impacto menos contracionista do atual aperto monetário do que o implícito em seus cenários. Entretanto, a maioria dos membros do comitê julgou que essa interpretação ainda parece prematura e necessita de corroboração maior dos dados. No âmbito externo, o baixo grau de ociosidade do mercado de trabalho em algumas economias e uma inflação corrente persistentemente elevada e disseminada no setor de serviços sugerem que pressões inflacionárias devem demorar a se dissipar. Nesse contexto, a redução das pressões inflacionárias continua a requerer o compromisso e a determinação dos bancos centrais com o controle da inflação, através da manutenção de um aperto de condições financeiras mais prolongado", ponderou.
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