O coração de Dom Pedro I chega ao Brasil na manhã desta segunda-feira, 22, em função da comemoração do bicentenário da Independência do Brasil em 2022. Para falar sobre o assunto, o Jornal da Manhã, da Jovem Pan News, entrevistou o deputado federal Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PL-SP), descendente do então regente. Segundo ele, a chegada do artefato não deve ser vista de forma política, mas como elemento importante na sinalização da importância do resgate e da manutenção da história e cultura brasileiras. "É muito especial esse dia, essa recepção. Vamos lembrar que isso é mais raro que passagem de cometa. Temos um evento histórico de mais de 200 anos, que se repete aqui uma vinda de uma relíquia que, pelos padrões europeus, isso é muito tradicional, é muito normal ter a ossada e o coração separados e também preservados. E, claro, toda uma visitação e uma conjuntura cultural e histórica preservada dentro do país. Agora, no contexto brasileiro, isso tudo infelizmente foi destruído. Nós perdemos um pouquinho a referência dos fundadores do Brasil, o que eles representavam, o que eles pensavam, o que almejavam para o Brasil. E é muito importante estar resgatando isso. Imagino que agora seja o início de um bonito e grande resgate para a população brasileira", pontuou o deputado.
Questionado se haveria um paralelismo entre a vinda dos restos mortais de Dom Pedro I ao Brasil em 1972, durante a Ditadura Militar, para comemoração dos 150 anos da independência, o deputado negou: "Eu não vejo da mesma maneira, porque a família não estava envolvida. E agora sim. Agora, foi um pedido nosso. Um pedido iniciado por um ativista que se comunicou com a Nise Yamaguchi, que se comunicou comigo, foi por aí o contexto. Não havia uma agenda política de trazer a ossada e o coração. Isso foi uma demanda de uma parcela da sociedade que quer ver um resgate histórico. E acho isso importante. Qualquer nuance de vínculo com uma agenda política está completamente derrotada. Não foi isso. Foi uma motivação, uma abertura do próprio presidente, do Itamaraty, tenho muito a agradecer ao Itamaraty e ao presidente da República por estar reconhecendo a importância de fazer um movimento como esse. Não é todo país que pode celebrar 200 anos de independência. Não é todo país que tem uma história como o Brasil. Somos únicos, somos diferentes. E é exatamente isso que nos torna um país de destaque. É isso que temos que preservar e valorizar", disse o descendente de Dom Pedro I.
De acordo com Luiz Philippe de Orleans e Bragança, há formas de valorizar o patrimônio brasileiro e isso não vem sendo feito. "O nosso patrimônio histórico está completamente esquecido. O Brasil, assim como o Afeganistão, é um dos países que menos usa o seu patrimônio histórico para promover turismo, consciência de brasilidade, de fato uma cultura que tem uma raiz muito bonita. O que acontece quando você não respeita ou esquece do seu passado, das glórias e da beleza que existia da história do Brasil, você não tem futuro. É exatamente isso que a gente precisa recriar aqui no Brasil, uma confiança, uma sabedoria de que temos um patrimônio histórico muito importante, que isso vai ajudar a gente a construir o país do futuro. Nem a Rússia, que passou por um período de quase todo o século 20 de Comunismo, nem a China, que passou também e ainda tem um modelo comunista praticamente, politicamente falando, eles destroem ou esquecem o patrimônio histórico como ocorre no Brasil. É um bom momento. Eu diria que é uma pedra fundadora em um bonito renascer da nossa cultura e história" afirmou.
O deputado ainda argumentou que seu antepassado tinha ideias à frente do seu tempo: "Dom Pedro I representava ideais liberais e constitucionais. Ele era uma personalidade de transição. Ele defendia com muito vigor a questão da constitucionalidade, de criar uma constituição para o Brasil, de ter poderes separados. Ele estava muito avançado na visão dele. Ele não era da visão tradicional, da monarquia tradicional. Ele era a personalidade de fazer a transição para um modelo constitucional. E ele não só fez isso no Brasil como, depois, quando foi para Portugal, fez a mesma coisa lá. Ele repetiu sua história duas vezes, só para reiterar o quanto ele era imbuído dessa ideologia e de sua missão de constitucionalizar os países ou, ao menos, os territórios em que ele estava".
Fonte: Jovem Pan