Lula defende voto escondido no STF; entidades de combate à corrupção criticam

"Absurda", "completamente equivocada", "na contramão da transparência", disseram a Transparência Brasil e o Instituto Não Aceito Corrupção

Por Trago Verdades em 06/09/2023 às 11:16:37

Foto: MAURO PIMENTEL / AFP

Duas entidades de combate à corrupção criticaram a declaração do presidente Lula em defesa do voto secreto para ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). O Instituto Não Aceito Corrupção (Inac) e a TransparĂȘncia Brasil, ONG ligada à TransparĂȘncia Internacional, consideraram a tese absurda, inconstitucional e antidemocrĂĄtica.

Lula disse na terça-feira 5 que "a sociedade não tem que saber como vota um ministro da Suprema Corte". "Não acho que o cara precisa saber, votou a maioria, não precisa ninguém saber. Porque aĂ­ cada um que perde fica com raiva, cada um que ganha fica feliz", declarou na live semanal.

"É absurda e completamente equivocada a afirmação do presidente Lula de que a "sociedade não tem que saber como vota um ministro da Suprema Corte". Os princĂ­pios democrĂĄticos e a Constituição Federal brasileira determinam justamente o contrĂĄrio", afirmou a TransparĂȘncia Brasil em uma postagem na rede social X (antigo Twitter).


A ONG diz ainda que a tese de Lula "é uma clara contradição ao discurso eleitoral de Lula" e, ao ser proferida pelo presidente, "levanta dĂșvidas sobre sua real adesão a esse compromisso e é altamente prejudicial às instituições e à democracia".

A TransparĂȘncia Brasil pondera discutir o "carĂĄter de espetĂĄculo que os julgamentos da Suprema Corte adquiriram" e "seus efeitos sobre a animosidade contra ministros". "Mas jamais se coloca em xeque a necessidade de transparĂȘncia sobre a decisão de cada um."

Lula, na fala da terça-feira, defendeu o voto secreto para preservar os ministros de crĂ­ticas. "Para a gente não criar animosidade, eu acho que era preciso começar a pensar se não é o jeito de a gente mudar o que estĂĄ acontecendo no Brasil. Porque do jeito que vai, daqui a pouco um ministro da Suprema Corte não pode mais sair na rua, passear com sua famĂ­lia, porque tem um cara que não gostou de uma decisão dele."

A transparĂȘncia das decisões da Justiça é um princĂ­pio constitucional previsto no artigo 37, que trata da publicidade dos atos pĂșblicos. As leis processuais tratam o sigilo das decisões judiciais como exceção. A publicidade é a regra.

"Defesa do voto secreto no STF causa profunda perplexidade"

Marco temporal
A publicidade das decisões judiciais é regra em todos os paĂ­ses democrĂĄticos; no STF, sessões são transmitidas pela TV Justiça| Foto: Nelson Jr./SCO/STF

Para o Inac, a fala de Lula estĂĄ "na contramão da necessĂĄria constante prestação de contas de cada um dos integrantes dos TrĂȘs Poderes à sociedade". Por isso, a defesa do voto secreto aos ministros do STF feita por Lula "causa profunda perplexidade".

Em nota, o instituto afirmou que a tese do petista não tem "respaldo na ordem jurĂ­dica, jĂĄ que a publicidade é a regra nesta matéria, tanto que existe institucionalmente desde 2002 um canal de TV constituĂ­do justamente para permitir à sociedade o acompanhamento dos votos dos ministros — a TV Justiça".


A entidade também criticou a motivação de Lula para propor o voto secreto. "Não é plausĂ­vel cogitar-se sobre esse sigilo em virtude de possĂ­veis reações de desagrado social a decisões da Corte, pois é necessĂĄrio ter-se a maturidade e serenidade para lidar com tais comportamentos, legĂ­timos numa democracia."

Na nota, o instituto lembrou que "o Brasil é um dos oito subscritores mundiais do Pacto dos Governos Abertos, celebrado em 2011, durante o governo petista", e que isso traz "um encargo adicional de sermos sempre modelo mundial de disseminação de governo aberto e transparĂȘncia".

Também assinam o pacto os Estados Unidos, a Noruega, a Grã-Bretanha, o México, a África do Sul, a Indonésia e as Filipinas.

Fonte: Revista Oeste

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