Vacina da hepatite B foi primeira a prevenir contra um tipo de câncer

Vírus da hepatite B é principal causador de câncer de fígado

Por Trago Verdades em 13/09/2023 às 12:15:27

Foto: Dênio Simões/Agência Brasília.

O vĂ­rus HBV, causador da hepatite B, é um antĂ­geno silencioso, que pode demorar anos até ser notado pelo hospedeiro. Quando isso acontece, entretanto, muitas vezes o estrago provocado jĂĄ resultou em uma cirrose ou um câncer de fĂ­gado. DisponĂ­vel no Sistema Único de SaĂșde (SUS) para crianças, adolescentes e adultos, a vacina contra a hepatite B é a principal forma de prevenir essa doença, que pode ser transmitida sexualmente, pelo contato com o sangue e durante a gestação, da mãe para o bebĂȘ.

Infectologista da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia, Raquel Stucchi destaca que a vacina contra a hepatite B foi a primeira vacina contra algum tipo de câncer a ser disponibilizada, porque o vĂ­rus da hepatite B é o principal causador de câncer de fĂ­gado.

11/09/2023, Raquel Stucchi é infectologista e consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia. Foto: Arquivo Pessoal
Infectologista Raquel Stucchi diz que resposta de crianças à vacina contra hepatite B é de 100% | Foto: Arquivo pessoal

"A vacinação diminuiu drasticamente os casos de hepatite B e o risco de cirrose e câncer de fĂ­gado. Por isso, a vacina é importante. E por que na infância? Primeiro, a adesão na infância é mais fĂĄcil. Ela é feita com outras vacinas nos primeiros meses de vida e pode ser feita no berçĂĄrio, assim que a criança nasce. E a resposta das crianças contra a hepatite B é de 100%, e, com a criança se mantendo saudĂĄvel depois, essa proteção é para a vida toda."

Vacinação desde o nascimento

A hepatite B é frequentemente lembrada como infecção sexualmente transmissĂ­vel (IST), mas a vacinação contra a doença após o parto é considerada fundamental para garantir que não haja transmissão do vĂ­rus da mãe para o bebĂȘ, o que é chamado na medicina de transmissão vertical.

Integrante do calendĂĄrio do adulto e da gestante, a vacina contra a hepatite B deve ser administrada também nos bebĂȘs logo após o nascimento. O Programa Nacional de Imunizações, que completa 50 anos em 2023, recomenda que os recém-nascidos recebam essa vacina nas primeiras 24 horas de vida, e, preferencialmente, nas primeiras 12 horas, ainda na maternidade.

O pediatra Renato Kfouri, presidente do Departamento CientĂ­fico de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm). Foto: SBIm/Divulgação
O Médico Renato Kfouri destaca importância de crianças serem vacinadas contra hepatite B logo após o nascimento SBIm/Divulgação

- SBIm/Divulgação

O pediatra Renato Kfouri, presidente do Departamento CientĂ­fico de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), explica que essa agilidade garante que o bebĂȘ não seja contaminado pelo vĂ­rus da hepatite B, caso sua mãe viva com a infecção.

"Ao vacinar logo ao nascer, a gente elimina essa possibilidade, e, consequentemente, a de termos no futuro portadores crônicos deste vĂ­rus. Essa é a razão de se vacinar ao nascer", explica Renato Kfouri.

Ele acrescenta que impedir a formação de um quadro crônico é também contribuir para o bloqueio do vĂ­rus.

O calendĂĄrio vacinal da criança prevĂȘ que a proteção contra a hepatite B também se dĂĄ por meio da vacina pentavalente, que deve ser aplicada aos 2 meses, aos 4 meses e aos 6 meses. Além dessa forma de hepatite, a vacina previne contra difteria, tétano, coqueluche, e Haemophilus influenzae B, causador de um tipo de meningite.

JĂĄ a partir dos 7 anos completos, quando não houver comprovação vacinal contra a hepatite B ou quando o esquema vacinal estiver incompleto, a recomendação é completar trĂȘs doses com a vacina especĂ­fica da hepatite B, com intervalo de 30 dias da primeira para a segunda dose, e de 6 meses entre a primeira e a terceira. Essa recomendação inclui adolescentes, adultos e, especialmente, gestantes.

Efeitos e eventos adversos

A Sociedade Brasileira de Imunizações informa que, em 3% a 29% dos vacinados, pode ocorrer dor no local da aplicação. JĂĄ endurecimento, inchaço e vermelhidão acometem de 0,2% a 17% das pessoas.

O pós-vacinação também pode ter febre bem tolerada e autolimitada nas primeiras 24 horas após a aplicação, para de 1% a 6% dos vacinados. Cansaço, tontura, dor de cabeça, irritabilidade e desconforto gastrintestinal são relatados por 1% a 20%.

Eventos adversos mais graves que isso são considerados raros ou muito raros. PĂșrpura trombocitopĂȘnica idiopĂĄtica foi registrada em menos de 0,01% dos vacinados, de modo que não foi possĂ­vel estabelecer se foi coincidĂȘncia ou de se fato tinha relação com a vacinação.

A bula da vacina contra a hepatite B também prevĂȘ uma frequĂȘncia muito rara de anafilaxia em adolescentes e adultos vacinados, na proporção de um caso a cada 600 mil. Essa ocorrĂȘncia é ainda mais rara ainda em crianças.

São Paulo - Paciente faz teste rĂĄpidos para HIV, hepatite B, hepatite C e sĂ­filis no Centro de ReferĂȘncia de Álcool, Tabaco e Outras Drogas (Cratod), em Bom Retiro, na região central (Rovena Rosa/AgĂȘncia Brasil)Teste para diagnóstico de hepatite B - Rovena Rosa/Arquivo/AgĂȘncia Brasil

Um quinto das mortes por hepatite

O Ministério da SaĂșde mostra que o vĂ­rus HBV chega a causar um terço dos casos de hepatite notificados no Brasil e estava relacionado a um quinto das mortes por hepatite entre 2000 e 2017. Na maioria dos casos, a pessoa infectada não apresenta sintomas e é diagnosticada décadas após a infecção, com sinais relacionados a outras doenças do fĂ­gado, como cansaço, tontura, enjoo/vômitos, febre, dor abdominal, pele e olhos amarelados.

A hepatite B ainda é considerada uma doença sem cura, e o tratamento disponibilizado no SUS visa a reduzir o risco de progressão da doença, que pode causar cirrose, câncer hepĂĄtico e morte. Raquel Stucchi explica que o tratamento, com antivirais, se estende por toda a vida.

"Se não fizer o teste, a pessoa só vai descobrir que tem o vĂ­rus quando jĂĄ tem uma cirrose avançada ou quando desenvolve o câncer de fĂ­gado. O diagnóstico é feito facilmente, até em testes rĂĄpidos", afirma.

"Até o momento, não temos medicação que elimine o vĂ­rus da hepatite B. Hoje, podemos dizer que não tem cura, mas a vacina impede esse adoecimento e a necessidade de fazer tratamento para o resto da vida."

Após a infecção, a doença pode se desenvolver de duas formas, a aguda e a crônica. A aguda se dĂĄ quando a infecção tem curta duração, e a forma é crônica quando a doença dura mais de seis meses. O risco de a doença tornar-se crônica depende da idade na qual ocorre a infecção, e os bebĂȘs estão mais sujeitos a ter uma hepatite crônica no futuro.

As formas mais importantes de transmissão da hepatite B são o contato com o sangue e o contato sexual sem preservativo. A infectologista explica que contato com o sangue inclui a realização de procedimentos e compartilhamento de utensĂ­lios sem a higiene necessĂĄria.

"Na transfusão de sangue esse risco praticamente não existe mais, pela triagem que é feita nos doadores, mas o contato com o sangue inclui procedimentos médicos, odontológicos ou estéticos sem a higienização adequada. E também manicures, alicates de unha sem esterilização, tatuagens, piercings."

arte hepatite b

Fonte: AgĂȘncia Brasil

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