O deputado federal MaurĂcio Marcon (Podemos-RS) pediu, nesta quinta-feira, 14, que a relatora da CPMI do 8 de Janeiro, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), renuncie ao posto no colegiado.
A declaração de Marcon acontece depois que a CPMI teve acesso a uma troca de mensagens entre Gabriel Dias, filho do general Gonçalves Dias, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), e o pai. Na conversa, Gabriel parece negociar um encontro entre um assessor da relatora e o general.
"Esperava da relatora que ela tivesse a grandeza de ter renunciado o cargo dela", disse Marcon". "Para o povo entender, a relatora é como juiz. Ela vai fazer um relatório final sobre os atos do 8 de janeiro e combinou perguntas e respostas com G. Dias para que ele, provavelmente, não fosse surpreendido. AliĂĄs, ela disse que temos pouco tempo na CPMI. Ficou muito claro que esse relatório final vai ser produzido pelo ministro da Justiça, FlĂĄvio Dino."
Nas mensagens entregues à comissão, Gabriel diz ao pai que o "JĂșlio" e o "Binho" (não foi possĂvel identificar quem seriam essas pessoas) entraram em contato com Eliziane e que ela teria dito para o assessor conversar com G. Dias.
"VocĂȘ vai trazer ele [assessor] aqui?", perguntou o ex-ministro ao filho em 28 de agosto. "É o chefe [de gabinete] mesmo?" Então, Gabriel confirma ao pai que, de fato, seria o chefe de gabinete da senadora.
"O JĂșlio e o Binho entraram em contato com a senadora", explicou Gabriel. "AĂ ela [Eliziane] disse para ele ir conversar com vocĂȘ. O JĂșlio vai me passar o nome da pessoa." A oposição aponta Eliziane como uma pessoa muito próxima ao ministro da Justiça.
Segundo o deputado federal Filipe Barros (PL-SP), o encontro entre G. Dias e o assessor aconteceu em 29 de agosto. Além disso, que, logo após a reunião, o general teria recebido um documento com perguntas e respostas a serem feitas durante o depoimento do general.
"No documento, contém, basicamente, as mesmas perguntas feitas pela relatora ao general", acusou Barros durante uma sessão da CPMI desta terça-feira, 12. "Politicamente falando, o relatório da senadora estĂĄ regado de um vĂcio. Ela, como relatora, não poderia mandar seu chefe de gabinete se encontrar com um depoente investigado às escondidas. Ela macula o relatório da CPMI."
Para o senador Marcos Rogério (PL-RO), "relator que tem contato com algum depoente antecipadamente ou combina linha de investigação perde a credibilidade".
Em sua defesa, Eliziane explicou que nunca viu o filho de G. Dias e negou ter trocado qualquer contato com o general ou com aliados dele.
"Se o Gabriel falou com alguém do meu gabinete, ele deve ter ligado como liga qualquer pessoa", disse a relatora da CPMI. "Sobre a repetição de perguntas, o que mais tem nessa CPMI é a repetição. Perguntar se ele fraudou [um documento da Abin], é a grande pergunta do debate. Se eu não fizesse essa pergunta, seria uma prevaricação da minha parte. Faço todas as perguntas que deveram ser feitas. Minhas perguntas foram repetidas por outros parlamentares aqui."
Além disso, a senadora acredita que a oposição revisita a possĂvel suspeita sobre seu relatório por "desespero".
"Eles estão tentando desviar o foco", disse. "HĂĄ um certo desespero da parte deles. Temos uma delação premiada aprovada e documentos que estão chegando à CPMI. Acho normal o desespero."
Fonte: Revista Oeste