A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das ONGs, presidida pelo senador PlĂnio Valério (PSDB-AM), recebeu nesta quarta-feira, 22, o presidente do Conselho Diretor do Instituto Socioambiental (ISA), MĂĄrcio Santilli, para esclarecer denĂșncias sobre supostas irregularidades da organização, que incluem o uso de dinheiro pĂșblico, falha na prestação de contas, recursos provenientes do exterior, manipulação e exploração de indĂgenas, bem como manipulação para demarcação de terras indĂgenas. O colegiado, que funciona hĂĄ cerca de quatros meses, foi instaurado com o objetivo de investigar as atividades de organização não governamentais financiadas com dinheiro pĂșblico na Amazônia entre os anos de 2002 e 2023. Durante seu depoimento na CPI, MĂĄrcio Santilli afirmou que possui uma consultoria que presta serviços à própria organização e que o instituto arrecadou cerca de meio bilhão de reais.
A CPI jĂĄ ouviu diversas denĂșncias sobre o modo como a organização tem atuado na região amazônica. O conselheiro da Área de Proteção Ambiental (APA) Triunfo do Xingu, Marcelo Norkey Duarte Pereira, afirmou em depoimento à CPI no dia 4 de julho que existe um afrouxamento de licenças ambientais e a criação de projetos de assentamento em anos eleitorais. Outra denĂșncia feita por Marcelo é a qualidade dos estudos técnicos e cientĂficos elaborados pelo ISA, em contrato com o governo federal, para viabilizar sete unidades de conservação na floresta amazônica. Nas oitivas, o ISA foi acusado por indĂgenas de explorar produtos como o cogumelo Ianomâmi e a pimenta Baniwa. Um relatório da Abin, obtido pela CPI, mostra que o ISA adota posições de conflito com os interesses do governo brasileiro na região e desenvolve ações que configuram tentativas de interferĂȘncia externa. De acordo com PlĂnio Valério, nos Ășltimos dois anos, o ISA recebeu cerca de R$137 milhões e não hĂĄ transparĂȘncia sobre os gastos destes recursos. Somente em 2022, o ISA fechou o ano com orçamento de mais de R$69 milhões, provenientes de 63 financiadores, sendo 84% de doações estrangeiras e 16% de doações nacionais. Segundo MĂĄrcio Santilli, eles trabalham com o "conceito de que todas as nossas equipes tĂȘm funções finalĂsticas, de modo que 88% desse orçamento é aplicado em programas e projetos que tĂȘm a ver com as atividades fins do instituto".
Ao rebater as acusações de que existem comunidades indĂgenas sem atendimento, mesmo com o montante de dinheiro recebido pela ONG, o conselheiro do instituto afirmou que existem mais de 600 comunidades espalhadas pelos rios que desaguam no Rio Negro e que, portanto, não é possĂvel atender a demanda de todas. "A forma de trabalhar do ISA nessas regiões é através de parcerias com associações e as organizações indĂgenas locais. É muito importante que nossa organização atue de maneira formal, clara, transparente, através de termos de cooperação com as organizações locais", disse. O relator da CPI, senador MĂĄrcio Bittar (União Brasil-AC), questionou a existĂȘncia de um "conflito moral e ético" na atuação da secretĂĄria-executiva adjunta do Instituto Socioambiental, Adriana de Carvalho, que seria sócia de Santilli na Consultoria Ambiental LTDA e membro titular do conselho de administração do Fundo Amazônia. Bittar afirmou que existe "uma questão imoral de pessoas que fazem parte de ONGs, ajudam a decidir polĂticas pĂșblicas e, ao mesmo tempo, captam recursos daquilo que ajudaram a decidir". Em resposta, o diretor do ISA disse que "Adriana Ramos não pertence mais ao conselho do Fundo da Amazônia" e que "ela é apenas uma representante da sociedade civil brasileiro, assim como existem outras representações da Confederação Nacional da IndĂșstria, da academia, e outros setores da sociedade".
Outros depoimentos ouvidos pela CPI:
A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, foi convocada para comparecer à CPI nesta quarta-feira, mas avisou na véspera que não iria porque jĂĄ estava convocada para ir à Comissão de Agricultura da Câmara. A ministra deve ser convocada novamente para comparecer à comissão, que tem funcionamento previsto até 19 de dezembro.
Fonte: Jovem Pan