Diretor do Instituto Socioambiental admite ter empresa de consultoria que presta serviço à própria ONG

Márcio Santili foi ouvido nesta quarta-feira, 22; presidente do colegiado, Plínio Valério (PSDB-AM) vê "imoralidade"

Por Trago Verdades em 22/11/2023 às 16:33:29

Foto: Geraldo Magela/Agência Senado

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das ONGs, presidida pelo senador PlĂ­nio Valério (PSDB-AM), recebeu nesta quarta-feira, 22, o presidente do Conselho Diretor do Instituto Socioambiental (ISA), MĂĄrcio Santilli, para esclarecer denĂșncias sobre supostas irregularidades da organização, que incluem o uso de dinheiro pĂșblico, falha na prestação de contas, recursos provenientes do exterior, manipulação e exploração de indĂ­genas, bem como manipulação para demarcação de terras indĂ­genas. O colegiado, que funciona hĂĄ cerca de quatros meses, foi instaurado com o objetivo de investigar as atividades de organização não governamentais financiadas com dinheiro pĂșblico na Amazônia entre os anos de 2002 e 2023. Durante seu depoimento na CPI, MĂĄrcio Santilli afirmou que possui uma consultoria que presta serviços à própria organização e que o instituto arrecadou cerca de meio bilhão de reais.

A CPI jĂĄ ouviu diversas denĂșncias sobre o modo como a organização tem atuado na região amazônica. O conselheiro da Área de Proteção Ambiental (APA) Triunfo do Xingu, Marcelo Norkey Duarte Pereira, afirmou em depoimento à CPI no dia 4 de julho que existe um afrouxamento de licenças ambientais e a criação de projetos de assentamento em anos eleitorais. Outra denĂșncia feita por Marcelo é a qualidade dos estudos técnicos e cientĂ­ficos elaborados pelo ISA, em contrato com o governo federal, para viabilizar sete unidades de conservação na floresta amazônica. Nas oitivas, o ISA foi acusado por indĂ­genas de explorar produtos como o cogumelo Ianomâmi e a pimenta Baniwa. Um relatório da Abin, obtido pela CPI, mostra que o ISA adota posições de conflito com os interesses do governo brasileiro na região e desenvolve ações que configuram tentativas de interferĂȘncia externa. De acordo com PlĂ­nio Valério, nos Ășltimos dois anos, o ISA recebeu cerca de R$137 milhões e não hĂĄ transparĂȘncia sobre os gastos destes recursos. Somente em 2022, o ISA fechou o ano com orçamento de mais de R$69 milhões, provenientes de 63 financiadores, sendo 84% de doações estrangeiras e 16% de doações nacionais. Segundo MĂĄrcio Santilli, eles trabalham com o "conceito de que todas as nossas equipes tĂȘm funções finalĂ­sticas, de modo que 88% desse orçamento é aplicado em programas e projetos que tĂȘm a ver com as atividades fins do instituto".

Ao rebater as acusações de que existem comunidades indĂ­genas sem atendimento, mesmo com o montante de dinheiro recebido pela ONG, o conselheiro do instituto afirmou que existem mais de 600 comunidades espalhadas pelos rios que desaguam no Rio Negro e que, portanto, não é possĂ­vel atender a demanda de todas. "A forma de trabalhar do ISA nessas regiões é através de parcerias com associações e as organizações indĂ­genas locais. É muito importante que nossa organização atue de maneira formal, clara, transparente, através de termos de cooperação com as organizações locais", disse. O relator da CPI, senador MĂĄrcio Bittar (União Brasil-AC), questionou a existĂȘncia de um "conflito moral e ético" na atuação da secretĂĄria-executiva adjunta do Instituto Socioambiental, Adriana de Carvalho, que seria sócia de Santilli na Consultoria Ambiental LTDA e membro titular do conselho de administração do Fundo Amazônia. Bittar afirmou que existe "uma questão imoral de pessoas que fazem parte de ONGs, ajudam a decidir polĂ­ticas pĂșblicas e, ao mesmo tempo, captam recursos daquilo que ajudaram a decidir". Em resposta, o diretor do ISA disse que "Adriana Ramos não pertence mais ao conselho do Fundo da Amazônia" e que "ela é apenas uma representante da sociedade civil brasileiro, assim como existem outras representações da Confederação Nacional da IndĂșstria, da academia, e outros setores da sociedade".

Outros depoimentos ouvidos pela CPI:

  • IndĂ­genas disseram que não existe resultado efetivo dos recursos milionĂĄrios que o ISA recebe e que não conhecem as consultas que o instituto diz ter feito para realizar ações em nome deles, em São Gabriel da Cachoeiro. Moradores de diversas comunidades afirmaram que a ONG lucra com produtos indĂ­genas e que não hĂĄ retorno financeiro para elas;
  • O ex-ministro da Defesa, Aldo Rebelo, disse no dia 11 de julho que a Amazônia possui trĂȘs estados paralelos: o estado oficial, o do trĂĄfico e o das ONGs;
  • O antropólogo Edward Luz revelou documentos que mostram que o ISA recebeu 20 milhões de dólares da ONG americana Gordon & Betty Moore Foundation e que este financiamento se iniciou em 2004, com o intuito de aumentar em 1 milhão de hectares as terras indĂ­genas do Rio Negro. Ele também denunciou a manipulação no processo de demarcação de terras indĂ­genas.

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, foi convocada para comparecer à CPI nesta quarta-feira, mas avisou na véspera que não iria porque jĂĄ estava convocada para ir à Comissão de Agricultura da Câmara. A ministra deve ser convocada novamente para comparecer à comissão, que tem funcionamento previsto até 19 de dezembro.

Fonte: Jovem Pan

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