Vídeo em que o Padre Júlio Lancellotti se masturba para menor de idade é confirmado por perícia

Denúncia deve ser encaminhada para a Arquidiocese de São Paulo na próxima semana

Por Trago Verdades em 20/01/2024 às 17:09:30

Os vídeos em poder da Revista Oeste foram gravados pelo adolescente, que tinha 16 anos na época das conversas com Lancellotti | Foto:Twitter/X @GuilhermeBoulos

A Arquidiocese de São Paulo estĂĄ prestes a receber quatro vĂ­deos que mostram o padre JĂșlio Lancellotti se masturbando para um menor de idade. A veracidade das cenas, gravadas em 26 de fevereiro de 2019, foi atestada por uma nova perĂ­cia técnica audiovisual, realizada hĂĄ poucos dias. A Revista Oeste teve acesso a este documento com exclusividade.

Ao longo de 79 pĂĄginas, os peritos Reginaldo Tirotti e Jacqueline Tirotti analisaram o estado de conservação dos arquivos, observaram cada frame dos filmes, realizaram os exames prosopogrĂĄficos (técnica que identifica as caracterĂ­sticas faciais e do ambiente), inspecionaram os ĂĄudios e comprovaram sua integridade.

Os vĂ­deos em poder da Revista Oeste foram gravados pelo adolescente, que tinha 16 anos na época das conversas com Lancellotti. A cena inicial mostra uma tela de celular, com trocas de mensagens no aplicativo WhatsApp. Depois, começa a videochamada e a câmera oscila entre as partes Ă­ntimas e o rosto do padre.

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Em 2020, essas imagens circularam por algum tempo nas redes sociais. Na época, o perito Onias Tavares de Aguiar confirmou a autenticidade do vĂ­deo. Contudo, o Ministério PĂșblico (MP) arquivou a investigação por "falta de materialidade".

PerĂ­cias do gĂȘnero chegam a um veredito depois da verificação de distintos elementos: contorno facial, altura da calvĂ­cie, inclinação do nariz, acessórios, mobĂ­lias. Tudo isso foi comparado com imagens do padre em outras situações. Por exemplo, em entrevistas a emissoras de televisão.

Ao constatarem todas as convergĂȘncias e verificarem a ausĂȘncia de vestĂ­gios de adulteração dos arquivos, Reginaldo e Jacqueline concluĂ­ram que JĂșlio Lancellotti é o homem que aparece nas imagens.

A CPI das ONGs mira JĂșlio Lancellotti

A denĂșncia serĂĄ apresentada poucos dias depois de o cardeal dom Odilo Scherer encaminhar um ofĂ­cio para o presidente da Câmara Municipal, Milton Leite (União), solicitando o envio das "denĂșncias de extrema gravidade" que o vereador Rubinho Nunes (União) recebeu contra JĂșlio Lancellotti.

Depois de apresentados à arquidiocese, os vĂ­deos devem ser exibidos a portas fechadas para a plateia formada por integrantes do colégio de lĂ­deres da Câmara Municipal. Como se reĂșnem sempre às terças-feiras, o próximo encontro serĂĄ em 23 de janeiro.

O material que ampara a denĂșncia foi resgatado por parlamentares empenhados em instaurar CPI das ONGs. Conforme o autor da proposta, Rubinho Nunes, o objetivo é investigar os grupos que atuam no centro da capital paulista, no qual se distribui a cracolândia.

O vereador acusa as ONGs de formarem uma espécie de "mĂĄfia da miséria" para "explorar os dependentes quĂ­micos". De acordo com Nunes, essas organizações recebem dinheiro pĂșblico para distribuir alimentos, kits de higiene e itens para o uso de drogas — prĂĄtica conhecida como "polĂ­tica de redução de danos".

Apresentado no fim do ano passado, o requerimento para a instauração da CPI das ONGs teve 25 assinaturas. A comissão pretende investigar com especial rigor duas instituições: o Centro Social Nossa Senhora do Bom Parto, conhecida como Bompar, e a Craco Resiste. Ambas miram a população de rua e dependentes quĂ­micos no centro da capital. É o que faz JĂșlio Lancellotti, ex-conselheiro do Bompar.

"Os dependentes quĂ­micos precisam de programas de tratamento de alta qualidade para ajudar a superar o vĂ­cio", justifica Rubinho, no pedido de abertura da CPI. "Uma CPI pode avaliar a eficĂĄcia dos programas oferecidos pelas ONGs."

Em dezembro, o padre garantiu que não tem poderes para influenciar tais entidades nem tem projetos conjuntos com as organizações. Em relação à Bombar, especificamente, afirmou que ocupa uma posição sem remuneração no conselho deliberativo da instituição, do qual se desligou oficialmente hĂĄ 17 anos.

A esquerda reage

Diante do reaparecimento do vĂ­deo, o polĂ­tico-midiĂĄtico e a esquerda se mobilizaram para abortar a CPI das ONGs. Motivo: num ano eleitoral, as investigações poderão influenciar a disputa nas urnas paulistanas. JĂșlio Lancellotti é aliado do deputado federal e pré-candidato Guilherme Boulos (Psol).

A União Nacional dos Estudantes (UNE) juntou-se ao movimento. Seus dirigentes sustentam que "é inadmissĂ­vel que, no Estado com o maior nĂșmero de pessoas em situação de rua, aqueles que atuam para o acolhimento e garantia de seus diretos bĂĄsicos sejam perseguidos e tratados como criminosos".

O presidente Luiz InĂĄcio Lula da Silva também aliou-se ao padre, ao declarar que JĂșlio Lancellotti "dedica sua vida para tentar dar um pouco de dignidade, respeito e cidadania às pessoas".

Em nota, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) saiu em defesa do lĂ­der religioso. "O MST se solidariza com o padre JĂșlio Lancellotti, que sofre ataques da extrema direita", afirmou o documento.

A mobilização não parou por aĂ­. O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), telefonou no inĂ­cio deste mĂȘs para comunicar de viva voz sua solidariedade a JĂșlio Lancellotti. O padre confirmou o apoio do ministro.

Parlamentares recuam

Pressionados pelo bloco de esquerda, pelo menos sete parlamentares desistiram da abertura da CPI. Para que a comissão seja instalada, o texto precisa ser apreciado pelo colégio de lĂ­deres e pelo plenĂĄrio. Nesta Ășltima instância, a aprovação exige o apoio de 28 vereadores.

Entre os vereadores que mudaram de ideia e agora rejeitam a instalação da comissão estão Sidney Cruz (Solidariedade), Thammy Miranda (PL), Sandra Tadeu (União Brasil), Xexéu Tripoli (PSDB), Milton Ferreira (Podemos) e Beto do Social (PSDB).

Apesar das desistĂȘncias, Rubinho Nunes disse que pretende levar a comissão adiante. "Não vou recuar de maneira alguma", afirmou. "Essa perseguição aos parlamentares só mostra que tem algo muito grande por trĂĄs."

Em 2020, esse mesmo vĂ­deo foi enviado à polĂ­cia por uma denunciante anônima. Uma reportagem da revista piauĂ­ insinuou que o vĂ­deo foi forjado pelo Movimento Brasil Livre (MBL). "O objetivo da fabricação do vĂ­deo era incriminar o pĂĄroco no crime de pedofilia", acusa o texto. O ex-deputado Arthur do Val foi quem enviou o material para a anĂĄlise do perito Onias Tavares de Aguiar. Em 172 pĂĄginas, o documento confirma a veracidade do vĂ­deo.

Perito sem registro

No inĂ­cio de 2024, o vĂ­deo de JĂșlio Lancellotti voltou a agitar os bastidores da polĂ­tica municipal. Com a possibilidade de instauração da CPI das ONGs em São Paulo, a mĂ­dia ligada à esquerda se mobilizou para defender o padre.

É o caso da revista Forum, que contratou o instrutor de computação forense MĂĄrio Gazziro, pesquisador na Universidade Federal do ABC (UFABC), para realizar uma perĂ­cia no material. O documento elaborado por ele tem apenas 12 pĂĄginas.

Ao contrĂĄrio dos peritos que atestam a veracidade do documento, o currĂ­culo de Gazziro é indigente. Ao pesquisar o nome de Gazziro no Jusbrasil, Oeste se deparou com apenas quatro processos. Nenhum deles é sobre perĂ­cia. Em seu currĂ­culo, não constam cursos de perĂ­cia nem registros profissionais para o exercĂ­cio da profissão.

Embora a ausĂȘncia de registro não implique necessariamente em ilegalidade, a falta do cadastro ressalta que Gazziro não atua frequentemente como perito, apenas em situações particulares. É diferente dos casos de Reginaldo Tirotti, Jacqueline Tirotti e Onias Tavares de Aguiar.

Oficialmente, a Arquidiocese de São Paulo afirma que ainda não recebeu nenhuma denĂșncia vinculada ao padre JĂșlio Lancellotti e, portanto, desconhece o conteĂșdo das investigações.




Fonte: Revista Oeste

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