Estádio Pacaembu não vai mudar de nome, garante presidente do Consórcio que arrematou o complexo

Por Trago Verdades em 17/02/2024 às 09:31:29

Foto: Reprodução internet

O jornalista Wanderley Nogueira entrevistou Eduardo Barella, presidente da Progen e do Consórcio Allegra Pacaembu para o podcast Nossa Conversa, hospedado no site da Jovem Pan. A Allegra Pacaembu é responsável por administrar o Complexo Pacaembu, composto pelo estádio Paulo Machado de Carvalho e o Centro Poliesportivo. O consórcio venceu a licitação de concessão pelo valor de R$ 111 milhões por 35 anos.

Wanderley Nogueira: O valor de R$ 111 milhões é pago à vista, de forma mensal, anual? Como esse valor chega aos cofres da prefeitura?
Eduardo Barella: O valor ofertado pela concessionária foi de R$ 111 milhões, como você mesmo colocou. Este foi um certame licitatório, ou seja, foi uma concorrência entre quatro participantes da qual saímos vencedores. Existia, no certame licitatório, um regramento em relação ao pagamento da outorga. A outorga mínima foi R$ 35 milhões e definia como vencedor quem pagasse o maior valor. Nosso valor foi de R$ 111 milhões, e o edital previa que fosse paga a diferença entre o valor mínimo e o valor ofertado. Portanto, antes do contrato ser assinado, nós fizemos um pagamento no valor aproximado de R$ 80 milhões. A diferença deste valor começou a ser paga no ano passado e será paga em dez prestações reajustadas. Portanto, este foi o valor apenas para que nós assinássemos o contrato de concessão.

WN: Dez prestações reajustadas anuais?
EB: Sim, anuais. Do 4º ao 14º ano são dez prestações do valor mínimo. E, como eu já disse, a diferença já foi paga, antes mesmo da assinatura do contrato de concessão.

WN: O complexo do Pacaembu tem várias áreas tombadas pelo patrimônio público. O local está sendo modernizado.Terá lojas, restaurantes, e o centro esportivo está sendo reconstruído, reformado, você vai explicar. E o estádio Paulo Machado de Carvalho terá capacidade de aproximadamente 26 mil lugares. É isso mesmo?
EB: O complexo do Pacaembu é completamente tombado. Seja em nível estadual, pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo), como na esfera municipal, pelo Conpresp (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo). É importante ressaltar, e essa é uma informação que muitas vezes não é divulgada ao público, que os órgãos de patrimônio já haviam feito uma pré-autorização daquilo que poderia ser feito no complexo. E nós fizemos alguns ajustes, que foram aprovados pelos dois órgãos de fiscalização e publicados no Diário Oficial. Portanto, tudo aquilo que está sendo feito no complexo tem a autorização dos órgãos de patrimônio. Nós não podemos, por exemplo, alterar nenhum dos usos. O ginásio continua sendo ginásio, a piscina continua sendo piscina, o centro de tênis continua sendo um centro de tênis e o campo segue sendo o campo. O que estamos fazendo é acrescentar 45 mil metros quadrados de novas áreas, justamente para abrigar restaurante, um hotel, um centro de convenções e eventos e algumas lojas para que o Pacaembu possa se tornar um destino da cidade de São Paulo. O Pacaembu, muitas vezes, acabava sendo um lugar de passagem dentro da cidade. As pessoas passavam para assistir a um jogo de futebol, passavam para frequentar o Centro Esportivo, mas não tinham ofertas. Nós estamos proporcionando ao Pacaembu um espaço com ofertas, para que a população possa desfrutar deste local que é tão querido por todos.

WN: Eu vi uma bela foto de imagem projetada do complexo em uma entrevista que você concedeu recentemente. Aquela imagem retrata exatamente como vai ficar o complexo?
EB: É aquilo mesmo. Aquela foto, na verdade, é um render em 3D do projeto que reproduz de forma fidedigna como será o projeto. A gente vai ter uma experiência no Pacaembu que será única na América Latina. Nós vamos ter um hotel, projetado no lugar onde antes tínhamos o Tobogã. Isso possibilitará que as pessoas que fiquem hospedadas neste hotel possam, por exemplo, estar de frente para um campo de futebol, até mesmo em dia de jogos. Estamos construindo um centro de convenções e eventos debaixo deste hotel, trazendo também uma experiência muito interessante dentro de uma cidade como São Paulo, que abriga milhares de eventos.

WN: O consórcio teve, em algum momento, o interesse de ter a concessão da Praça Charles Muller?
EB: Esse é um assunto que acabou trazendo alguma polêmica. Ele é fruto de um pleito da concessionária. Nós fizemos um pleito junto a prefeitura de reequilíbrio em função de três pontos que acreditamos ser negociáveis. O primeiro ponto foi a demora no prazo de aprovação dos nossos projetos, diferente do que era previsto no edital de licitação. O segundo ponto é sobre o efeito da pandemia. Isso fez com que nós fossemos obrigados a fechar o complexo esportivo. E o terceiro ponto é uma diferença de área entre o que foi apresentado pela prefeitura e a aferição real do terreno. Quando você tem um reequilíbrio de um contrato dessa natureza, você tem algumas formas de fazê-lo. Você pode fazer um aumento de prazo, um abatimento no valor da outorga, pagamento por parte do município, e nós estamos fazendo um pleito que acreditamos que seja o mais adequado. Ao invés de termos mais prazo ou receber algo, que pudéssemos assumir a zeladoria da praça Charles Muller. A praça hoje é subutilizada. Ela serve hoje como um grande estacionamento árido. Nós podemos fazer uma modernização da praça. Esse pleito ainda não foi avaliado pela prefeitura e nós estamos aguardando a resposta para ter a oportunidade de entregar algo muito diferente e impactante para a cidade.

WN: Eu defendo que a história precisa ser preservada, e a fachada monumental, mantida. Ela é um grande cartão postal da cidade, e o nome do estádio, Paulo Machado de Carvalho, vai continuar. É exatamente isso que teve a intenção o consórcio e o patrocinador, para evitar um processo sobre o nome do estádio? Evitar o enfraquecimento de uma homenagem que foi feita nos anos 1960 e que poderia provocar um esquecimento? Como vai funcionar o naming right do estádio Paulo Machado de Carvalho e do complexo Pacaembu?
EB: Essa é uma ótima oportunidade para esclarecer alguns pontos. É bem importante explicar uma questão anterior neste tema de naming right que foi anunciado nas últimas semanas. Desde que vencemos a licitação, sempre tivemos muito claro que a coisa mais importante para nós, que o êxito deste projeto, era a manutenção da história do Pacaembu. O Pacaembu é a segunda casa de todas as torcidas. É um equipamento esportivo adorado por todos os paulistanos. E, para nós, sempre foi claro que qualquer alteração no seu uso seria muito prejudicial. O Pacaembu é um equipamento com mais de 80 anos e ele nunca foi trabalhado também como marca. Então, nós entendemos que essa seria uma oportunidade muito valiosa, muito significativa e relevante para alguma empresa que quisesse ter seu nome atrelado a esse equipamento da cidade. Até porque essa marca que estará conosco também nos ajudaria a devolver para a cidade esse local tão querido por todos. Nós já tínhamos a pré-aprovação dos órgãos de patrimônio do que poderia ser feito ou não. Tudo aquilo que está na fachada, com face voltada para a rua, você não tem autorização para fazer nenhuma mudança significativa. Então o letreiro do "Estádio Municipal Paulo Machado de Carvalho" não será tocado, e todas as inserções de marca acontecerão nas áreas internas do complexo. A denominação do complexo passará a ser "Mercado LivreArena Pacaembu". O Centro de Convenções e eventos, que é um espaço novo, construído embaixo da projeção do antigo Tobogã, vai se chamar "Mercado Pago Hall", e o ginásio poliesportivo, a piscina olímpica e o centro de tênis também levarão o nome de Mercado Livre a partir de agora. Eu acho que essa foi uma feliz coincidência, de uma marca tão importante abraçar esse projeto para devolver esse equipamento tão importante para a cidade.

WN: Eu posso dizer então que o estádio Municipal Paulo Machados de Carvalho integra o complexo Mercado Livre/Arena Pacaembu?
EB: Sim, está correto. Essa é uma boa definição. O estádio está inserido dentro do complexo Mercado Livre/Arena Pacaembu, que congrega o estádio e todos os outros locais que eu citei anteriormente.

WN: E a permissão para que munícipes utilizem o centro poliesportivo e os outros espaços do complexo?
EB: Sim, será possível e até ampliado. Antes, como funcionava: você tinha que fazer uma carteirinha para adentrar as dependências do complexo e utilizar os equipamentos. A utilização dentro do nosso período de concessão terá a mesma dinâmica que tinha no passado. Ou seja, a piscina continuará sendo pública. E o ginásio poliesportivo e o centro de tênis poderão ser utilizados mediante agendamento. No entanto, nós vamos eliminar qualquer tipo de barreira física para a entrada de pessoas no complexo. Portanto, o Mercado Livre/Arena Pacaembu terá um acesso muito assemelhado, por exemplo, com o de parques, onde as pessoas podem adentrar ao local. Então, o projeto é muito importante e depende muito do fluxo de pessoas. Para nós, quanto mais pessoas, melhor. Nós queremos incentivar as pessoas a adentrarem o complexo. Nós queremos incentivar que as pessoas fiquem no complexo. E por isso a nossa oferta precisa ser uma oferta rica, que retenha as pessoas lá dentro. A gente precisa que esse espaço seja ocupado sete dias por semana. Esses são os três principais objetivos da concessionária dentro da sua gestão.

WN: E os jogos dentro do estádio Paulo Machado de Carvalho? Vocês já tem jogos agendados? Teremos jogos ainda em 2024? Como vai funcionar o calendário do estádio?
EB: Aqui é sempre importante dizer que o futebol é a essência do Pacaembu, quando a gente fala de Pacaembu, a maioria das lembranças vem do futebol, e isso vai permanecer. A gente tem uma alegria muito grande de administrar esse estádio e quer potencializar esse uso do futebol. Eu mesmo tenho milhares de histórias com o estádio. É um grande privilégio, até uma satisfação pessoal, poder gerir o complexo. Por que a gente não crava que, por exemplo, vamos receber jogos do time A, B ou C, apesar de já termos acordos firmados com os clubes? Você milita no futebol há muitos anos e sabe que o clube, muitas vezes, para não jogar na sua casa, depende do momento, se está indo bem ou mal. Ele depende do adversário. Então, essas definições acabam acontecendo mais próximas da data do evento. Mas nós temos, sim, acordos firmados com o São Paulo, com o Santos, com o Cruzeiro, que é o primeiro acordo fechado com um time de fora do Estado de São Paulo. Nós estamos buscando novos acordos e teremos, já em 2024, a partir de junho, partidas acontecendo no estádio. A nossa expectativa é realizar pelo menos 20 partidas até o final do ano.

WN: É verdade que a ideia de vocês é fazer uma grande festa antes, durante e após as partidas?
EB: Mesmo antes de ganharmos a licitação, fomos buscar fora do Brasil como os eventos esportivos são geridos. Em especial, nos EUA. Lá eles não fazem com o futebol em si, mas fazem com o futebol americano, o basquete e o beisebol. E queríamos entender como funciona essa dinâmica em um dia de evento. Acreditamos que, tanto para a concessionária quanto para os clubes, será melhor uma relação de parceria no dia do evento. O que acontece muitas vezes é que o clube leva o público e fica com o dinheiro da bilheteria. Ele paga um aluguel, mas sempre existe a discussão sobre a receita de alimentos e bebidas. Sobre a receita de estacionamento e hospitalidade. E a nossa proposta para os clubes foi que eles pudessem jogar no Pacaembu sem nenhum custo e que o primeiro dinheiro que entrasse banque o custo fixo e que tudo aquilo que sobre, não só de bilheteria, mas também de alimentos e bebidas, estacionamento e hospitalidade possa ser dividido entre as partes. Com isso, a gente seria capaz de ampliar a jornada do torcedor dentro do Pacaembu. A ideia é que, por exemplo, em um jogo no domingo, às 16h, a gente possa abrir o portão ao meio-dia. E, depois do jogo, permanecer com a estadia do torcedor, dentro do complexo, até 20h, 21h ou 22h. Para isso, nós desenhamos um modelo, que foi apresentado aos clubes e foi bem recepcionado. A nossa expectativa é que uma parte importante dessas 20 partidas para esse ano funcionem neste modelo.

WN: E os shows? A arena vai receber shows, como isso vai funcionar?
EB: Nós construímos um centro de convenções e eventos, o Mercado Pago Hall, com capacidade para 8.500 pessoas. Ele está localizado debaixo da projeção do antigo Tobogã. Agora será abaixo da projeção do Hotel que está sendo construído. E essa é uma capacidade que vai atender uma parcela significativa de shows. Nós já temos contratos para a realização de 80 shows por ano no Pacaembu. Em um contrato de dez anos. E esse espaço conta com uma acústica privilegiada, já que está enterrado a mais de 16 metros de profundidade. Não vai ter nenhum tipo de impacto com a vizinhança. Temos, sim, uma grande expectativa para receber eventos musicais dentro dessa nossa ótica de aumentar o uso do complexo para que ele não fique limitado apenas ao futebol ou ao uso do centro poliesportivo.

WN: Como está sendo a relação com os moradores do bairro? E outra coisa, a entrega será feita em etapas, a partir do meio do ano?
EB: A nossa relação com o bairro sempre tentou ser a melhor possível. Afinal de contas é uma analogia que eu sempre costumo fazer. É como se você estivesse comprando uma casa e eu sou seu vizinho. Eu toco a campainha e vou me apresentar. Eu vou dizer: "Olha, vou ter que fazer uma obra aqui, talvez eu possa causar algum tipo de incômodo. Está aqui meu telefone, qualquer coisa pode me ligar". E com o bairro é a mesma coisa. Nós já estamos há quase cinco anos nesse projeto e eu já vejo as coisas com muita naturalidade e entendo que o ser humano de modo geral acaba tendo um certo receio com o desconhecido. A gente tem um projeto muito bonito, você viu as imagens, mas não está pronto. As pessoas têm receio do que vai acontecer, como isso vai impactar a vida delas. O que eu sinto bastante nessa relação de bastante tempo com o bairro é que de fato, hoje, o projeto é muito abraçado. Seja por conta da valorização da sua casa, da sua área. Estão percebendo que você vai ter mais vida e, consequentemente, mais segurança no bairro. Então, eu acho que nós já temos uma parcela significativa de pessoas que abraçam o projeto. Claro que tem uma ou outra pessoa que acaba fazendo algum questionamento, mas eu acho que essa é uma parcela muito pequena. É assim que a gente tem visto essa relação. E eu tenho a mais absoluta certeza que, quando a gente fizer a inauguração, a totalidade do bairro estará conosco. Com relação à questão do prazo, nós vamos fazer a abertura em etapas. Temos o prazo contratual junto à prefeitura de 29 de junho deste ano. Até esta data, todas as nossas obrigações contratuais com a prefeitura serão entregues. Nós vamos agora, a partir de abril, fazer aberturas de alguns equipamentos do complexo. Começamos em abril, e até junho vamos entregar todas as nossas obrigações.

WN: O novo gramado do estádio Paulo Machado de Carvalho será natural ou sintético?
EB: Nós já definimos o gramado. Inclusive se você colocar hoje um drone para sobrevoar o estádio, já deve estar com a grama sendo instalada. Nós já terminamos toda a parte de drenagem, toda a parte que vai abaixo da grama já está posta. O gramado será sintético. Essa acaba sendo uma tendência muito grande para compor complexos que necessitam de uma utilização mais intensa e nós fizemos aqui uma escolha e uma seleção muito apurada. Visitamos todos os gramados sintéticos Brasil. Essa é uma tecnologia que tem avançado muito. É uma tecnologia que mudou nos últimos dez anos. E sendo muito franco, eu tenho certeza que ela vai mudar, vai melhorar muito nos próximos anos. E nós temos previsão de fazer trocas, sempre pensando naquilo que for mais moderno em relação à tecnologia de gramado. Eu posso garantir que o gramado, apesar de sintético, será perfeito para a realização do futebol, que é o alicerce mais importante de todo o complexo. A mensagem que eu gosto de deixar neste momento é reforçar o compromisso com a essência do Pacaembu. É muito bacana você vir até a obra e ver como as pessoas tratam o projeto. Esse não é apenas um projeto de terceiro que o amam. Tem muitas pessoas que trabalham aqui e tem histórias com o Pacaembu. Todos tratam o Pacaembu com muito carinho. Nós estamos levando a frente o projeto mais significativo de restauro no Brasil. Com manutenção da fachada, de toda a sua história. Tudo devidamente aprovado junto aos órgãos de patrimônio. Tudo o que está sendo feito aqui, está sendo feito com muito carinho e respeito. Eu entendo as desconfianças em relação a esse projeto, mas o que queremos é manter essa tradição do Pacaembu, mas com esse olhar moderno, esse olhar para o futuro. E eu estou esperançoso que, quando reinaugurarmos o Pacaembu, as pessoas vão entender o que estamos fazendo.

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Fonte: Jovem Pan

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