A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de anular, na última terça-feira, 21, as condenações contra investigados por corrupção na Operação Lava Jato foi "um duro golpe no legado da investigação que abalou a maior democracia da América Latina". A afirmação é do jornal norte-americano Financial Times, em texto publicado na quarta-feira, 22.
A reportagem destaca que o tribunal anulou uma condenação de 2017 contra José Dirceu, "político de esquerda e aliado de longa data do presidente Lula (PT)", com a alegação de que o processo havia expirado.
Um único juiz do Supremo, Dias Toffoli, também anulou decisões contra o empresário Marcelo Odebrecht, que em 2016 confessou crimes como suborno e lavagem de dinheiro.
"Juntas, as decisões são mais um prego no caixão da Operação Lava Jato, que começou em 2014 e revelou um esquema multibilionário de propinas e que desviou dinheiro da grande petrolífera estatal Petrobras", explica o jornal.
A publicação lembra aos leitores que um cartel de empresas de construção pagava sistematicamente subornos a funcionários e executivos da Petrobras em troca de contratos. O Departamento de Justiça dos EUA descreveu o esquema como o "maior caso de suborno estrangeiro da história".
Dezenas de políticos e empresários foram presos enquanto a Lava Jato recebia aplausos no país e no exterior. Mas as ordens recentes da Corte brasileira podem levar ao "regresso da impunidade".
Por 3 votos a 2, o tribunal anulou a condenação de quase nove anos de prisão de Dirceu por recebimento de propina, entre 2009 e 2012, de empresa que tinha contrato com a Petrobras.
"Seus advogados argumentaram que a condenação não era válida — ele tinha mais de 70 anos no momento da sentença, o que reduz o prazo de prescrição do crime de metade para seis anos", relatou o Financial Times.
O veículo lembra que, no que depender da Justiça brasileira, existe o risco de Dirceu se candidatar nas próximas eleições.
A periódico britânico também destacou que Toffoli é um antigo advogado do Partido dos Trabalhadores (PT), que retomou o poder no governo federal. E que o ministro suspendeu uma multa multimilionária imposta ao grupo Novonor, antiga Odebrecht, pelo seu papel no escândalo de corrupção
Caso Odebrecht
A empresa familiar que leva o sobrenome de Marcelo Odebrecht, e que antes da Lava Jato era o maior conglomerado de construção da América do Sul, foi identificada pelos promotores como centro do esquema de corrupção.
Em 2016, o executivo foi condenado a 19 anos de prisão, tempo posteriormente reduzido. Ele passou dois anos na prisão antes de ser transferido para a prisão domiciliar, que terminou em 2023.
Fonte: Revista Oeste