Decisão tomada: Rússia anuncia quando vai deixar a Estação Espacial Internacional

Por Trago Verdades em 26/07/2022 às 13:32:17

Imagem: NASA

Nesta terça-feira (26), Yuri Borisov, o novo chefe da Roscosmos, a agĂȘncia espacial da RĂșssia, revelou que o paĂ­s realmente decidiu deixar a Estação Espacial Internacional (ISS), confirmando ameaças feitas anteriormente em resposta a sanções aplicadas pelos EUA após a invasão da Ucrânia. Segundo ele, a participação russa no programa colaborativo no se encerra no fim de 2024.

"A decisão de deixar a estação após 2024 foi tomada", disse o vice-primeiro-ministro, que foi nomeado para administrar a Roscosmos após o desligamento de Dmitry Rogozin, hĂĄ cerca de duas semanas.

Vice-primeiro-ministro russo Yuri Borisov, novo chefe da agĂȘncia espacial Roscosmos. Imagem: Mikhail Metzel/TASS

Segundo a agĂȘncia de notĂ­cias Reuters, a NASA disse ainda não ter sido formalmente comunicada. "Nada oficial ainda", afirmou Robyn Gatens, diretora do programa estação espacial da agĂȘncia norte-americana. "Nós literalmente acabamos de ver isso também. Não recebemos nada oficial".

Logo que a invasão da Ucrânia foi ordenada por Vladimir Putin, o Olhar Digital entrou em contato com a NASA para saber sobre os impactos do conflito nas operações do laboratório orbital, construĂ­do e mantido por um consórcio de 15 paĂ­ses entre os quais os EUA e a RĂșssia são os membros mais importantes. Na ocasião, a agĂȘncia afirmou que "tudo permanece como de costume".

"A NASA continua trabalhando com a Corporação Espacial Estatal Roscosmos e nossos outros parceiros internacionais no CanadĂĄ, Europa e Japão para manter operações seguras e contĂ­nuas da Estação Espacial Internacional", declarou Joshua A. Finch, relações pĂșblicas da agĂȘncia, na época.

Conflitos geopolĂ­ticos nunca interferiram na operação da ISS

Semanas depois, a administradora associada de operações espaciais da NASA, Kathy Lueders, reafirmou as intenções da agĂȘncia de manter a harmonia entre os paĂ­ses, da mesma maneira que foi feita em outros cenĂĄrios parecidos. "JĂĄ operamos nesse tipo de situação antes, e ambos os lados sempre trabalharam muito profissionalmente e entendem ao nosso nĂ­vel a importância desta fantĂĄstica missão".

É comum dizer que a ISS tem um "lado russo" e um "lado americano" (embora a realidade seja um pouco mais complexa), e astronautas dos dois paĂ­ses são presença constante nas tripulações que se revezam em órbita a cada seis meses.

Além disso, a própria estrutura da ISS garante a cooperação entre seus membros. O "lado russo" depende de painéis solares no "lado americano" para obter energia elétrica, e estes dependem dos russos para, basicamente, manter a estação "no lugar".

Isso porque, mesmo a mais de 400 km da superfĂ­cie, ainda hĂĄ atrito entre a estação e a atmosfera da Terra, o que faz com que a velocidade e a altitude do laboratório orbital sejam constantemente reduzidas. Por isso, são necessĂĄrias manobras periódicas para compensar essa "queda", feitas usando os propulsores das espaçonaves russas que regularmente visitam a estação.

Mesmo acreditando que a RĂșssia não deixaria o programa, algumas alternativas vĂȘm sendo testadas. Em junho, uma nave Cygnus da norte-americana Northrop Grumman que estava conectada à estação depois de deixar uma carga Ăștil para a tripulação, realizou uma manobra de impulso operacional pela primeira vez, com o intuito de testar essa capacidade funcional até então executada apenas pelas cĂĄpsulas Progress, da RĂșssia.

Além disso, embora os veĂ­culos Dragon da SpaceX não tenham propulsores orientados para executar tal manobra, Lueders disse que a empresa estĂĄ estudando incluir essa "capacidade adicional" em suas cĂĄpsulas de carga.

Segundo Lueders, a NASA estaria olhando para essas capacidades apenas como "flexibilidades operacionais". No entanto, se a agĂȘncia tivesse um meio independente de impulsionar a estação e realizar manobras de evasão de detritos, os EUA provavelmente conseguiriam dirigir a estação sem a parceria russa.

Ocorre que, conforme destaca o site Ars Technica, ninguém na NASA realmente gostaria que isso acontecesse. E um dos pontos principais para essa resistĂȘncia, segundo Lueders, é que a relação colaborativa entre os paĂ­ses membros da ISS representa um sĂ­mbolo importante para a cooperação humana em um mundo repleto de conflitos.

"A ISS é uma parceria internacional que foi criada com dependĂȘncias conjuntas, o que a torna um programa incrĂ­vel. É um lugar onde vivemos e operamos no espaço, de forma pacĂ­fica", disse ela. "E eu realmente sinto que esta é uma boa mensagem para nós, que estamos operando pacificamente e seguros agora e seguindo em frente. Se a parceria se rompesse [devido às tensões geopolĂ­ticas], seria muito triste".


Fonte: Olhar Digital

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