O Brasil já entrou na rota da transmissão comunitária da monkeypox – nome oficial da varíola dos macacos. Para especialistas, embora campanhas de prevenção estejam sendo feitas, há um tópico pouco falado e igualmente importante: o risco da doença levar à cegueira.
O perigo à saúde ocular ocorre devido à falta de hábitos simples, como higienizar as mãos, que podem ser decisivos para os olhos. As crianças são as mais propensas, no entanto, o risco pode ser grave também aos imunossuprimidos e gestantes. No surto atual, o Brasil já registrou um caso de conjuntivite relacionado à varíola dos macacos, mais especificamente em um paciente em São Paulo.
A comunidade científica que vem estudando os casos desde que a doença surgiu na África já identificou nove alterações oculares, a mais frequente é o aumento dos gânglios linfáticos perioculares, que ocorre em 75% dos casos. Na sequência vêm a Blefarite e a Conjuntivite (30%); Formação de vesículas na órbita e ao redor dos olhos (25%); Fotofobia ou aversão à luz (22,5%); Lesão foco conjuntival (17%); Ceratite (3,6% a 7,5%) e Úlcera na córnea (4%).
Segundo César Silveira, professor da Ulbra e médico oftalmologista, a mais preocupante das consequências, no entanto, é a perda da visão. Um estudo realizado no Zire com 338 pacientes mostrou que a cegueira pode ocorrer em 10% das contaminações primárias e 5% das secundárias. Silveira explica que os danos oculares podem acontecer por conta do toque na lesão corporal e o ato de levar as mãos aos olhos, sem higienizar. "Isto é mais frequente do que se imagina, pois quando a ferida começa a secar, manifesta coceira e, muitas vezes a pessoa esquece de lavar as mãos", disse o oftalmologista.
O contágio pode ocorrer ainda através de contato com utensílios e roupas utilizados por um doente ou pelo contato com secreção das lesões de pele, saliva ou gotículas das vias respiratórias. Basta tocar um desses elementos, levar a mão ao olho e a contaminação do globo ocular acontece. "Por isso, é muito importante a higienização", enfatiza o médico.
Silveira pontua que, no caso dos olhos, a segurança só ocorre após a eliminação de todas as crostas – manchas vermelhas que posteriormente se transformam em vesículas cheias de líquido viscoso que contém o vírus, e evoluem para pústulas com pus que secam e formam a crosta. O especialista aconselha que todo paciente com suspeita de varíola dos macacos consulte um oftalmologista, a fim de não incorrer em riscos de automedicação e piorar um possível quadro clínico. Um colírio com corticoide, por exemplo, pode aumentar a resistência do vírus, afinar a córnea e provocar perfuração. O tratamento vai variar de acordo com a avaliação do profissional.
Conforme dicas do Dr. Silveira: consultar um oftalmologista; lavar as mãos com frequência; evitar coçar os olhos; uso de máscara nos contatos mais próximos com outras pessoas; e evitar uso de colírios sem orientação médica.
Fonte: Olhar Digital