Cientistas usam nanotecnologia para criar robô a partir do DNA humano

Robô em nanoescala feito a partir do DNA humano pode ajudar a estudar processos biológicos e patológicos do organismo

Por Trago Verdades em 28/07/2022 às 13:48:16

Imagem: Sergey Nivens - Shutterstock/ Mills, A., Aissaoui, N., Maurel, D. et al.

Parece coisa de ficção cientĂ­fica, mas é real: uma equipe de pesquisadores franceses desenvolveu um robô baseado em nanotecnologia a partir do DNA humano. Um artigo que descreve o estudo foi publicado nesta quinta-feira (28) na Nature Communications.

Robô em nanoescala feito a partir do DNA humano pode ajudar a estudar processos biológicos e patológicos do organismo. Imagem: Sergey Nivens – Shutterstock

Segundo os autores, o "nanorrobô" deve permitir um estudo mais aprofundado das forças mecânicas aplicadas em nĂ­veis microscópicos, que são cruciais para muitos processos biológicos e patológicos.

Nosso organismo estĂĄ sujeito a forças mecânicas exercidas em escala microscópica, desencadeando sinais biológicos fundamentais para muitos processos celulares envolvidos em seu funcionamento normal ou no desenvolvimento de doenças.

A sensação de toque, por exemplo, é condicionada, em partes, à aplicação de forças mecânicas em receptores celulares especĂ­ficos. Conhecidos como mecanorreceptores, eles permitem a regulação de outros processos biológicos essenciais, como constrição do vaso sanguĂ­neo, percepção da dor, respiração, detecção de ondas sonoras no ouvido, entre outros.

Conforme explica o site Phys, a disfunção dessa sensibilidade celular estĂĄ envolvida em muitas doenças, como o câncer, por exemplo. As células cancerĂ­genas transitem dentro do corpo, se adaptando às propriedades mecânicas de seu microambiente. Tal adaptação só é possĂ­vel porque forças especĂ­ficas são detectadas por mecanorreceptores que transmitem a informação para o citoesqueleto celular.

Ilustração esquemĂĄtica da estratégia de montagem do robô milimétrico baseado em DNA. Os domĂ­nios de DNA de helicoidal duplo são representados por cilindros e são embalados em uma rede tipo favo de mel. O dispositivo é composto por dois origamis de DNA em um aparador. Imagem: Mills, A., Aissaoui, N., Maurel, D. et al.

VĂĄrias tecnologias jĂĄ estão disponĂ­veis para aplicar forças controladas e estudar esses mecanismos, no entanto, elas tĂȘm uma série de limitações, a começar pelo fato de que elas são muito caras. Além disso, essas técnicas não nos permitem estudar uma grande variedade de receptores celulares de uma só vez, o que torna a coleta de dados muito demorada.

Para propor uma alternativa, cientistas liderados pelo pesquisador GaĂ«tan Bellot, do Instituto Nacional de SaĂșde e Pesquisa Médica (Inserm), Ășnica organização governamental exclusivamente dedicada à pesquisa biológica, médica e de saĂșde pĂșblica da França, decidiram usar o método de origami de DNA.

Esse método foi criado em 2006 pelo pesquisador Paul Rothemund e consiste no uso de diversas fitas simples de DNA que servem como base para outras fitas de material genético que se ligam como contrapartes. As sequĂȘncias de DNA são selecionadas de tal forma que as fitas e dobras anexadas criam as estruturas desejadas em um processo de automontagem. Nos Ășltimos dez anos, a técnica possibilitou grandes avanços no campo da nanotecnologia.

Robô apresenta vantagens, mas é sujeito a reações do organismo

Os pesquisadores franceses puderam projetar um robô em escala nanoscópica – portanto, compatĂ­vel com o tamanho de uma célula humana – composto por trĂȘs estruturas de origami de DNA.

Assim, pela primeira vez, torna-se possĂ­vel aplicar e controlar uma força com uma resolução de 1 piconewton – ou seja, um trilhão de Newton (sendo que 1 Newton equivale a 0,102 kg) Esta é a primeira vez que um objeto automontado baseado em DNA humano pode aplicar uma força com tal precisão.

A equipe acoplou o nanorrobô a uma molécula, possibilitando direcionar o dispositivo para algumas células e aplicar forças especificamente em mecanorreceptores localizados na superfĂ­cie dessas células, com o objetivo de ativĂĄ-los.

Tal ferramenta é muito valiosa para pesquisas bĂĄsicas, pois poderia ser usada para entender melhor os mecanismos moleculares envolvidos na mecanossensibilidade celular e descobrir novos receptores celulares sensĂ­veis às forças mecânicas.

"O design de um robô que permite a aplicação in vitro e in vivo das forças de piconewton atende a uma demanda crescente na comunidade cientĂ­fica e representa um grande avanço tecnológico". diz Bellot, reconhecendo, no entanto, que o projeto também estĂĄ sujeito a falhas. "A biocompatibilidade do robô pode ser considerada uma vantagem para aplicações in vivo, mas também uma fraqueza com sensibilidade a enzimas que podem degradar o DNA".

Ele revelou que o próximo passo da equipe serĂĄ estudar como modificar a superfĂ­cie do robô para que ele seja menos sensĂ­vel à ação das enzimas. "Também tentaremos encontrar outros modos de ativação do nosso robô usando, por exemplo, um campo magnético".


Fonte: Olhar Digital

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