Quando o próximo grande terremoto ocorrer em algum lugar do mundo, ele chegará sem aviso prévio, destruindo a infraestrutura e colocando vidas em risco.
No entanto, nos dias que antecedem o evento, forças geológicas titânicas já estarão em ação, deformando a crosta de maneiras sutis que poderiam, em teoria, prever a catástrofe que se aproxima.
Um possível sinal poderia envolver oscilações no campo magnético que flui e reflui ao redor de nosso planeta. Por décadas, os pesquisadores debateram os méritos da busca por assinaturas magnéticas de tremores iminentes por falta de evidências convincentes.
Um novo estudo do QuakeFinder, projeto de pesquisa humanitária da empresa de serviços de engenharia de sistemas Stellar Solutions, em colaboração com a equipe do Google Accelerated Science, conclui que pode haver bom motivo para continuar a pesquisa. O estudo foi publicado no Journal of Geophysical Research: Solid Earth.
Aplicando o machine learning a medições terrestres de mudanças magnéticas locais no período que antecedeu vários terremotos significativos na Califórnia entre 2005 e 2019, os pesquisadores encontraram sinais de padrão que exige mais estudos.
Isso não quer dizer que o efeito que eles observaram poderia necessariamente ser usado para prever terremotos, mas não deixa de ser uma pista fascinante para estudos futuros.
"Não estamos afirmando que esse sinal existe antes de cada terremoto", disse o diretor do QuakeFinder, Dan Schneider. No entanto, as descobertas podem ser suficientes para manter vivo por um pouco mais de tempo o tema controverso das previsões eletromagnéticas de grandes tremores.
As premissas por trás de flutuações hipotéticas no campo magnético antes dos terremotos parecem bastante razoáveis.
Alguns argumentam que o acúmulo maciço de pressão na crosta antes de um terremoto poderia, em teoria, alterar as propriedades das camadas de rocha o suficiente para influenciar sua condutividade.
Outros estudos sugerem que bolsões de gás aprisionado se acumulam antes da liberação, criando as correntes elétricas necessárias para afetar a atividade magnética.
Detectar as mudanças de frequência ultrabaixa resultantes no campo magnético daria às autoridades um aviso de que algo grande vai eclodir, dando tempo para se preparar da mesma maneira que as comunidades podem fazer com um furacão crescente.
Infelizmente, o que parece ser uma ideia promissora esbarra em vários obstáculos na aplicação.
Por um lado, muitas coisas podem criar oscilações de baixa frequência em manchas locais de um campo magnético. Mesmo aumentos no tráfego nas proximidades ou pequenas mudanças na atividade solar podem introduzir zumbido que pode ser confundido com distúrbio geológico.
Desvendar um sinal confiável desse ruído requer equipamentos de medição precisos em locais fixos próximos a tremores consideráveis. Mesmo onde isso ocorre, terremotos suficientes do tamanho certo precisam ser registrados para se obter amostra estatística.
Com locais de pesquisa localizados perto de falhas em todo o Estado da Califórnia, o Quakefinder está em posição sólida para superar esses obstáculos.
Magnetômetros enterrados nos diferentes locais de pesquisa forneceram aos pesquisadores quantidade considerável de dados sobre terremotos de magnitude superior a 4,5.
Depois de selecionar terremotos para os quais havia medições de dois locais próximos e excluir pares de locais sem registros adequados, os pesquisadores ficaram com medições em 19 terremotos.
Essa amostra foi então dividida em dois grupos, um servindo como base de um estudo de machine learning que tentou filtrar possíveis padrões de influências conhecidas, com o segundo grupo servindo como teste para possíveis descobertas.
A relação sinal-ruído identificada pelo processo e confirmada no teste não era exatamente forte. Como os pesquisadores admitem em seu relatório publicado, anomalias eletromagnéticas óbvias antes dos terremotos "teriam sido observadas, documentadas e aceitas muito antes" em investigações anteriores.
Mas eles sugerem que algo intrigante está à espreita no brilho eletromagnético, como um "grito" suspeito na tempestade, que pode estar presente até três dias antes de um terremoto acontecer. O ajuste fino do método dos pesquisadores usando amostra maior pode identificar o que está acontecendo.
Caso estudos futuros cheguem a um zumbido confiável de destruição iminente no campo magnético de uma área, ainda pode não ser uma "melodia" universal, exigindo ainda mais testes em vários locais ao redor do mundo.
Por enquanto, a ideia de usar pequenas mudanças no campo magnético do planeta para prever tremores permanece controversa. Mas impulsionados por resultados como esses, investigações adicionais podem finalmente descobrir os sussurros secretos de uma falha no ponto de ruptura.
Via Science Alert
Fonte: Olhar Digital