Roberto Jefferson se entrega e é preso no Rio de Janeiro após horas de resistência

Mandado de prisão foi emitido pelo STF após o ex-parlamentar publicar vídeos ofendendo a ministra Cármen Lúcia e jogar uma granada contra agentes da Polícia Federal após uma primeira tentativa de prisão

Por Trago Verdades em 23/10/2022 às 19:19:25

FÁBIO MOTTA/ESTADÃO CONTEÚDO

Após enfrentar resistĂȘncia e ser alvo de ataques de granadas, a PolĂ­cia Federal do Rio de Janeiro prendeu o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB), na tarde deste domingo, 23. A prisão veio horas depois da primeira tentativa da organização de deter o investigado. A rendição contou com ajuda do ex-presidenciĂĄvel Padre Kelmon, que realizou orações com Jefferson e o convenceu a se entregar. Ele saiu escoltado em um carro da PolĂ­cia. Em um primeiro momento, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), revogou a prisão domiciliar do ex-parlamentar após ele gravar um vĂ­deo com ataques à ministra CĂĄrmen LĂșcia, a quem chamou de "vagabunda" e "prostituta". Contudo, um novo mandado de prisão foi emitido após ataques a policiais que cumpriam a primeira decisão judicial, permitindo que ele fosse detido a qualquer horĂĄrio do dia. Agentes da PolĂ­cia Federal (PF) foram à casa de Jefferson, em Comendador Levy Gasparian, no Sul do Estado do Rio de Janeiro, e foram atingidos por estilhaços de uma granada arremessada por ele contra a corporação. "Como se vĂȘ, a conduta de ROBERTO JEFFERSON, ao atirar nos agentes policiais, configurar, em tese, duplo crime de homicĂ­dio, na forma tentada (art. 121 c/c art. 14, II, ambos do Código Penal), encontrando-se o agente em estado de flagrância, nos termos do art. 302 do Código de Processo Penal ", escreveu o ministro na segunda decisão.

Segundo o inciso XI do artigo 5Âș da Constituição Federal, as ordens judiciais só podem ser executadas durante o dia. O texto afirma que a casa é asilo inviolĂĄvel do indivĂ­duo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial". A decisão de Moraes indica que considera-se em flagrante delito quem estĂĄ cometendo a infração penal, acaba de cometĂȘ-la ou é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, objetos ou papéis que façam presumir ser ele autor da infração. "Diante de todo exposto, independentemente do horĂĄrio, DETERMINO À POLÍCIA FEDERAL QUE CUMPRA A ORDEM DE PRISÃO EXPEDIDA E/OU A PRISÃO EM FLAGRANTE DELITO. A intervenção de qualquer autoridade em sentido contrĂĄrio, para retardar ou deixar de praticar, indevidamente o ato, serĂĄ considerada delito de prevaricação", defendeu.

O assunto repercutiu de forma negativa entre autoridades, sendo que vĂĄrias delas se posicionaram criticamente às ações do ex-parlamentar. Mesmo sendo aliado ao polĂ­tico, o presidente Jair Bolsonaro (PL) se mostrou contrĂĄrio à atitude do ex-deputado e pediu que o Ministério da Justiça do Rio de Janeiro fosse ao local acompanhar o acidente. "Repudio as falas do Sr. Roberto Jefferson contra a Ministra CĂĄrmen LĂșcia e sua ação armada contra agentes da PF, bem como a existĂȘncia de inquéritos sem nenhum respaldo na Constituição e sem a atuação do MP. Determinei a ida do Ministro da Justiça ao Rio de Janeiro para acompanhar o andamento deste lamentĂĄvel episódio", escreveu. JĂĄ o ministro da Justiça e Segurança PĂșblica, Anderson Torres, escreveu: "Momento de tensão, que deve ser conduzido com muito cuidado. Ministério da Justiça estĂĄ todo empenhado em apaziguar essa crise, com brevidade, e da melhor forma possĂ­vel".

Presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira também se posicionou de forma contrĂĄria, mesmo sem citar diretamente o caso. "O Brasil assiste estarrecido fatos que, neste domingo, atingiram o pico do absurdo. Em nome da Câmara, repudio toda reação violenta, armada ou com palavras, que ponham em risco as instituições e seus integrantes. Não admitiremos retrocessos ou atentados contra nossa democracia", escreveu. O candidato à presidĂȘncia da RepĂșblica, Luiz InĂĄcio Lula da Silva, também comentou o caso durante coletiva de imprensa. "JĂĄ disputamos tantas eleições neste paĂ­s e nunca vimos uma aberração dessa, uma cretinice dessa, que esse cidadão, que é o meu adversĂĄrio, estabeleceu no paĂ­s. Ele conseguiu criar neste paĂ­s uma parcela da sociedade brasileira raivosa, com ódio, mentirosa, que espalha fake news o dia inteiro, sem se importar se o seu filho estĂĄ vendo ou não. É um desrespeito com a população. Isso gera comportamentos como o do ex-deputado Roberto Jefferson e de outras pessoas que seguem nosso adversĂĄrio".

Candidato ao Governo de São Paulo, TarcĂ­sio de Freitas também endossou as crĂ­ticas à reação de Jefferson: "Lamento e repudio fortemente as falas agressivas à ministra Carmen LĂșcia, bem como a reação absurda de Roberto Jefferson nesta manhã. Deixo aqui a minha solidariedade aos agentes feridos no exercĂ­cio do seu trabalho e reforço a minha opinião de que NADA justifica a violĂȘncia. Não é isso que o paĂ­s quer e não é disso que os brasileiros precisam", avaliou. A deputada federal Marina Silva também avaliou a situação: "Roberto Jefferson, ao resistir armado à volta para cadeia, faz arder em brasas até virar cinzas a campanha de Bolsonaro. É o que acontece com aqueles que vivem aumentando o fogo das caldeiras do mundo de Hades, acabam sendo cozinhados nelas".


Fonte: Jovem Pan

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