Mulher teve 12 tipos de câncer e cientistas descobrem o motivo  

Estudo de genes possibilitou a descoberta de uma mutação nunca vista em humanos

Por Trago Verdades em 06/11/2022 às 16:15:24

Imagem: Giovanni Cancemi/Shutterstock

Um grupo de pesquisadores espanhóis conseguiram desvendar o mistério de uma mulher que teve 12 tipos de câncer antes dos 36 anos, cinco deles malignos. Com a devida autorização, a paciente se tornou objeto de estudo do Centro Nacional de Pesquisa do Câncer da Espanha, onde cientistas coletaram amostras de sangue e usaram o sequenciamento de DNA de célula Ășnica para analisar as mutações genéticas em seu organismo.

O primeiro tumor foi identificado aos dois anos, no canal auditivo. Aos 15, ela foi diagnosticada com o segundo, câncer de colo de Ăștero. Aos 20 anos, um tumor de glândula salivar foi removido cirurgicamente. Um ano depois, ela passou por uma nova cirurgia para remover um sarcoma de baixo grau. Até chegar aos 30 anos, outros vĂĄrios tumores foram identificados. O resultado da anĂĄlise apontou que ela tinha uma mutação Ășnica e rara que a tornou significativamente mais propensa a doença.

Conforme o estudo, publicado na Science Advances e divulgado pela Science Alert, a paciente tinha uma mutação em ambas as cópias do gene MAD1L1, algo considerado inédito em humanos. O gene MAD1L1 é responsĂĄvel por uma peça-chave do processo que ajuda a alinhar os cromossomos antes que uma célula seja dividida.

Mutações do tipo no gene não eram conhecidas, até agora. Chamada de mutação genética dupla (ou homozigótica), a reação jĂĄ foi testada em embriões de camundongos e se mostrou letal. Ao avaliar a famĂ­lia da paciente, nenhum membro apresentou a caracterĂ­stica de duplicidade. Por isso, o achado em um organismo humano é uma descoberta e tanto para os cientistas, e com certeza algo que demandarĂĄ ainda mais estudos.

A mutação genética dupla

Os seres humanos normalmente tĂȘm 23 pares de cromossomos no nĂșcleo de cada célula do corpo. Eles são pacotes de DNA que vĂȘm em forma de "X" e se formam quando uma célula estĂĄ prestes a sofrer a divisão ou replicação celular, criando as chamadas células-filhas. Em cada par de cromossomos, um vem da mãe da pessoa e o outro do pai.

Nesta mulher, a mutação estava causando disfunção na replicação celular e criando células com diferentes nĂșmeros de cromossomos. Cerca de 30% a 40% de suas células sanguĂ­neas tinham um nĂșmero anormal de cromossomos.

Segundo os pesquisadores, existe uma condição rara chamada Aneuploidia Variegada em Mosaico (MVA, sigla em inglĂȘs) onde se observa vĂĄrios nĂșmeros de cromossomos em células diferentes, como um mosaico de azulejos de cores diferentes. Essa condição parte exatamente desse tipo de mutação — como a vista na paciente, porém a dela sendo uma nova variante. Embora ainda não esteja claro o papel da aneuploidia no câncer, cerca de 90% dos tumores tĂȘm células cancerĂ­genas com cromossomos extras ou ausentes.

câncer
Imagem: PDPics (Pixabay)

Pessoas com MVA apresentam atraso no desenvolvimento, microcefalia, deficiĂȘncia intelectual e outros defeitos congĂȘnitos. O interesse dos pesquisadores se deu justamente porque mesmo com o tipo de mutação, a mulher não apresentava deficiĂȘncia intelectual e vivia uma vida relativamente normal, tirando os corriqueiros diagnósticos de câncer.

"Ainda não entendemos como esse indivĂ­duo pode ter se desenvolvido durante o estĂĄgio embrionĂĄrio, nem superado todas essas patologias", afirmou Marcos Malumbres, biólogo molecular, chefe da Divisão de Células e Grupo de Câncer do Centro Nacional de Investigação do Cancro da Espanha e coautor do estudo.

Ante aos dados, a pesquisa concluiu que pessoas com MVA, embora mais suscetĂ­veis ao câncer, podem ter uma "resposta imunológica aprimorada". Para os cientistas, a anĂĄlise do caso "pode oferecer novas oportunidades para o manejo clĂ­nico" de pacientes com a condição.


Fonte: Olhar Digital

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