Considerada a maior fabricante de semicondutores do mundo, a Taiwan Semiconductor Manufacturing Company (TSMC) está sob a mira chinesa. No meio do fogo cruzado entre a China e os EUA, que ganhou força com a visita da presidente da Câmara dos Deputados norte-americana Nancy Pelosi à nação insular, na terça-feira (2), a empresa ameaça parar produção.
Segundo o site da emissora Deutsche Welle (DW), Pelosi se reuniu com Mark Liu, presidente da empresa, que conta com mais de 10 mil produtos no catálogo e domina o mercado global como nenhuma outra, razão pela qual é alvo de interesse da China.
Os semicondutores são a principal matéria-prima para diversos produtos, desde chips de ponta para a indústria aeroespacial a circuitos usados em carros e geladeiras. Na cidade de Hsichnu, a metrópole de semicondutores de Taiwan, na costa noroeste da ilha, existem outras 19 fábricas além da TSMC, que possibilitam as tendências digitais para a economia global.
A cidade também comporta as duas principais universidades da ilha, que formam anualmente dezenas de profissionais para trabalhar nessas e nas demais fábricas do parque científico local, como a indústria óptica e de energia solar.
Para se ter uma ideia do mercado consumidor da TSMC, ela é fornecedora da Apple, da Qualcomm, da Intel, da Nvidia, entre outras, além de grandes fabricantes de automóveis na Europa, Ásia e América do Norte.
Em entrevista à CNN, Liu advertiu que uma invasão chinesa ao parque tecnológico de Hsichnu provocaria a interrupção da produção da TSMC. "Ninguém pode controlar a TSMC pela força. No caso do uso da força militar ou de uma invasão, a fábrica não estará mais operacional", afirmou o líder, sem detalhar os motivos. "São instalações de produção muito sofisticadas, que dependem de conexões em tempo real com o mundo exterior, com a Europa, o Japão, com os EUA".
Na verdade, todas as empresas envolvidas nas grandes tendências tecnológicas atuais, como digitalização, Inteligência Artificial ou veículos autônomos, dependem das fábricas de semicondutores de Hsinchu. "Eles construíram para si uma posição de importância sistêmica", afirmou Peter Fintl, especialista em semicondutores da consultoria Capgemini, ao jornal alemão Handelsblatt.
Não é nenhuma surpresa que alertas soem quando a China ameaça invadir e tomar Taiwan. Desde que o ex-presidente dos EUA Donald Trump aumentou a pressão sobre as empresas asiáticas de alta tecnologia para construírem fábricas em território americano, muita coisa aconteceu. Uma nova fábrica de chips da TSMC está sendo construída no estado norte-americano do Arizona e deve ficar pronta em 2024, ao custo de 12 bilhões de dólares (aproximadamente R$ 62 bilhões).
Essa não será a primeira fábrica da TSMC nos EUA. A empresa já produz os wafers (discos finos nos quais são feitos os circuitos integrados, os microchips) em fábricas na costa oeste do país. No Texas, a TSCM mantém centros de pesquisa para projetar processadores.
De acordo com o Washington Post, a reunião com Pelosi também envolveu o Ato de Chips e Ciência, documento recém-aprovado aprovado pelo Congresso americano. Com um total de 52 bilhões de dólares (R$ 271 bilhões), o governo do país quer promover novas fábricas em seu território.
No entanto, os robustos subsídios só estão disponíveis para fabricantes que garantam que a tecnologia sensível para a produção de chips não seja usada na China. Afinal, nenhum outro país tem se esforçado mais para adquirir know-how para produção de chips de alta qualidade a fim de acompanhar o Ocidente nos setores bélico e aeroespacial, para depois ultrapassá-lo tecnologicamente.
Segundo o especialista em China e colunista do DW, Alexander Görlach, da Universidade de Oxford, "a China está interessada na indústria de produção de semicondutores de Taiwan porque possui as terras raras, e Taiwan a tecnologia e o know-how".
Essa é uma das razões centrais pelas quais a Alemanha e os EUA não podem simplesmente ficar parados e ver Taiwan ser tomada pela China, segundo Görlach. "Porque então nenhum carro também sairá das linhas de montagem em nosso país se os chips de Taiwan não chegarem".
A União Europeia (UE) também está trabalhando em busca da independência na produção de chips e traça planos de estímulo para a sua indústria de semicondutores. Com o Ato Europeu de Chips, a Comissão Europeia quer fomentar a indústria com 43 bilhões de euros (R$230 bilhões) em incentivos fiscais, com o objetivo de dobrar a participação da Europa na produção global de chips, hoje em menos de 10%, para 20% até 2030.
Fonte: Olhar Digital