O programa Morning Show recebeu nesta quarta-feira, 7, o ex-procurador Deltan Dallagnol (Podemos-PR). Em entrevista, ele falou sobre a anulação da decisão do TCU que o multou em R$ 2,8 milhões por diárias e passagens enquanto estava à frente da Lava Jato e fez críticas aos rumos tomados em casos de acordos de leniência com empresas investigadas na operação. "A gente tinha a esperança de que a Justiça iria se sobrepor à política, de que iria funcionar pela primeira vez na história contra os grande corruptos. Esses esquemas já foram revelados há décadas. Mais tarde, isso veio à tona mais uma vez. Pela primeira vez, passou a ser reprimido. O sistema reagiu e começou a desmontar as regras. Aquelas empresas que não fizeram acordo porque não queriam devolver o dinheiro e não queriam resolver seus crimes não foram punidas até hoje", afirmou. "O foco do sistema está em punir quem combateu a corrupção, e não quem praticou a corrupção. As empresas que fizeram acordo começaram a olhar para o lado. "A que não fez acordo não aconteceu nada com ela". Agora querem pedir a revisão, porque estão se achando idiotas por terem pago o dinheiro desviado e reconhecido os seus crimes. É esse o país que a gente quer construir? O sistema se virou de novo contra quem combateu a corrupção, e não contra quem praticou. É uma inversão de valores."
Recém-eleito deputado federal, o ex-procurador acusou o PT de tentar impedir a sua candidatura. "Engraçado que o PT e o Lula acusaram a Lava Jato de "lawfare". Eles falavam que a gente teria usado os mecanismos da lei para fins de perseguição política. Isso é absurdo, ninguém faz perseguição política em primeira instância. É tanta instância para analisar, que é impossível estabelecer um "lawfare". Aquilo foi aplicação da lei, conforme reconheceram vários tribunais. A ironia dessa história é que o "lawfare", que eles nos acusaram, é o que eles fazem contra nós", disse. "Mais absurdo ainda era me colocar no meio dessa história, colocaram eu e o Janot, que éramos candidatos. Por que faz sentido eles fazerem isso? Se me condenassem de modo definitivo, eu me tornaria inelegível e não poderia ir ao parlamento, e ninguém quer quer a Lava Jato no Congresso Nacional."
Para o mandato que começa em 2023, Dallagnol espera cumprir uma postura combativa ao futuro governo de Luiz Inácio Lula da Silva. "Tenho uma grande preocupação de que o futuro repita o passado. Uma coisa que a gente tem que entender é que os esquemas muitas vezes não são descobertos na hora que são praticados. Muitas vezes a Lava Jato descobriu esquemas praticados desde 2004, olha quanto tempo demorou para descobrir e comprovar. Quantos esquemas foram feitos e jamais foram comprovados? A melhor forma de combater esse problema não é remediando, mas prevenindo. Como você previne? Reestabelecendo as regras no Brasil", refletiu. "A princípio, a gente poderia esperar que o Congresso Nacional fosse frear em grande medida os abusos, tanto na área moral, como na área econômica. Infelizmente, contudo, não é assim que as coisas funcionam. Você chega no Congresso e tem dois grandes grupos de parlamentares: ideológicos, que vão defender ideias, projetos e planos, que é uma minoria; e um grande número de parlamentares fisiológicos, que vai estar lutando não por ideias e projetos, mas para ganhar benefícios do governo. Por isso vão se aliar ao governo e votar a favor do que o governo queira, independente do que seja. Eu vou fazer o melhor para defender o Brasil de retrocessos morais e econômicos", concluiu.
Fonte: Jovem Pan