Congresso aprova resolução que cria novas regras para o orçamento secreto

Medida regulamenta distribuição de recursos; decisão acontece em meio a julgamento do tema no Supremo Tribunal Federal, que tem placar de 5 a 4 pela derrubada das emendas

Por Trago Verdades em 16/12/2022 às 12:55:20

Edilson Rodrigues/Agência Senado

O Congresso Nacional aprovou, em sessão conjunta nesta sexta-feira, 16, a resolução 03/2022, que cria novas regras para as chamadas emendas de relator-geral do Orçamento da União, as emendas RP9, também conhecidas como Orçamento Secreto. Na Câmara dos Deputados, o placar foi de 328 votos a 66, com 4 abstenções. Enquanto entre os senadores, a matéria recebeu 44 votos favorĂĄveis, 20 contrĂĄrios e 2 abstenções à matéria, que define critérios para distribuição e destinação dos recursos tocados por essas emendas. Atualmente, considerando as regras atuais, a decisão sobre o repasse das emendas RP-9 fica a critério do relator do Orçamento, não existindo critérios objetivos para a destinação dos recursos. Com a aprovação da proposta, o relator-geral passarĂĄ a fazer indicações para a execução orçamentĂĄria. Além disso, as indicações também serão feitas de forma proporcional ao tamanho das bancadas partidĂĄrias. Com isso, a verba serĂĄ dividida da seguinte forma: 15% para o comando do Senado e da Câmara: 7,5% para a Mesa Diretora de cada Casa; 5% para serem divididos entre o presidente e o relator da Comissão Mista de Orçamento (CMO), e 80% para as indicações de partidos, respeitando o tamanho das bancadas; 23,33% para as indicações dos senadores e 56,66% para as indicações dos deputados.

Apesar da aprovação, grupo de parlamentares se posicionaram o momento da votação da resolução. Isso porque na próxima segunda-feira, 19, o Supremo Tribunal Federal (STF) deve finalizar julgamento a respeito da constitucionalidade das emendas de relator. Até o momento, a Corte soma cinco votos contrĂĄrios à existĂȘncia do Orçamento Secreto – um a menos do que o necessĂĄrio para formar maioria em plenĂĄrio. Com isso, havendo a possibilidade da Suprema Corte proibir o modelo de emendas, parte os congressistas defendem que a discussão sobre as novas regras deveria ser feita na próxima semana. "Essa resolução estĂĄ na contramão de todos os votos dos ministros do Supremo Tribunal. A possibilidade dela ter eficĂĄcia em função da decisão do STF que virĂĄ é zero. Ela não resolve nada do ponto de vista da transparĂȘncia e impessoalidade, ainda agrava a situação ao destinar ao presidente da Câmara dos Deputados 7,5% dos recursos. Isso é um escĂĄrnio e uma decisão da qual jamais gostaria de participar", disse o senador Renan Calheiros (MDB-AL), que chamou a votação de "totalmente indevida".

A deputada Adriana Ventura, lĂ­der do Novo na Câmara, disse que as emendas de relator instituem um "balcão de negócios" no Parlamento. "Isso não traz transparĂȘncia, isso estĂĄ chancelando que temos deputados de primeira, segunda e terceira categoria, onde vocĂȘ dĂĄ bilhões para fazer balcão de negócio, como jĂĄ vem sendo feito", exaltou, orientando voto contrĂĄrio à resolução. "Esse projeto é um "engana que eu gosto", para continuar o conchave entre os poderes", concluiu. O deputado Elias Vaz (PSB) também indicou voto não para a bancada do partido, argumentando que, com a resolução, "aquilo que estĂĄ errado, continua errado" e chamando a proposta de "imoralidade. O parlamentar também questionou a destinação de R$ 1,5 bilhões do Orçamento para indicação dos presidentes da Câmara e do Senado Federal, Arthur Lira (PP) e Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Assim como ele, o senador Randolfe Rodrigues (Rede) falou em "indecĂȘncia" a repartição dos recursos. "Não hĂĄ isonomia quando R$ 1,5 bilhão fica na mão do presidente da Câmara. Não hĂĄ isonomia quando existem critérios que traz distinção entre brasileiros que representam outros brasileiros. A resolução não traz transparĂȘncia proclamada e exigida pelo Supremo.

Julgamento no STF

O plenĂĄrio do Supremo Tribunal Federal retomou julgamento a respeito da constitucionalidade do chamado Orçamento Secreto nesta quinta-feira, 15, com votação do ministro André Mendonça, que divergiu da relatora, ministra Rosa Weber, presidente da Corte, e defendeu a constitucionalidade do texto. Mendonça negou que as emendas representem um "orçamento paralelo", mas reconheceu os problemas com a falta de transparĂȘncia Por isso, ele propõe prazo de 60 dias para que o Congresso Nacional garanta às emendas de relator os mesmos nĂ­veis de transparĂȘncia das emendas individuais e de bancadas. "Promover modificações a com finalidade de garantir as emendas de relator geral similar nĂ­veis para garantir transparĂȘncia e publicidade nos ideais regulatórios nas emendas impositivas", afirmou. O voto de Mendonça foi seguido pelos ministros Kassio Nunes Marques, Alexandre de Moraes e Dias Toffoli, que também se posicionaram pela continuidade do orçamento secreto. Em seu voto, Moraes destacou que "a população tem o direito de saber, o destino e o porquĂȘ indicou" os recursos, pedindo maior transparĂȘncia, mas entendeu que as emendas não devem acabar. "Sabemos que é um critério polĂ­tico, mas pode ser discricionĂĄrio, não arbitrĂĄrio. Deve ser fixado algum critério", disse.

Na sequĂȘncia, a ministra Rosa Weber recebeu apoio dos ministros Edson Fachin, Luiz Fux, CĂĄrmen LĂșcia e LuĂ­s Roberto Barroso. Na visão da parlamentar, a "incapacidade" dos congressistas para identificar os autores das emendas e a destinação dos recursos torna o atual modelo "incompatĂ­vel com a ordem constitucional e republicana". "Por isso trata-se de um orçamento secreto, não se sabe quem são os parlamentares integrantes do grupo privilegiado, não se conhecem as quantias administradas individualmente, não existem critérios objetivos e claros para realização das despesas, tão pouco observam-se regras de transparĂȘncia na sua execução", pontuou a presidente da Corte. De acordo com ela, citando ofĂ­cio apresentado pelos presidentes da Câmara e do Senado, Arthur Lira (PP) e Rodrigo Pacheco (PSD), apenas 70% dos deputados e 85% dos senadores deram transparĂȘncia das despesas de emendas de relator, o que a ministra considera insuficiente. Segundo ela, foram identificados apenas R$ 10,9 bilhões dos R$ 36,9 bilhões desembolsados nos exercĂ­cios de 2021 e 2022. Ou seja, menos de um terço do valor total gasto. A Suprema Corte adiou a conclusão do julgamento após pedidos dos ministros Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes, Ășltimos magistrados a se posicionarem. A expectativa é que a votação seja encerrada na próxima sessão do Tribunal, na segunda-feira, 19, a partir das 10h.

Fonte: Jovem Pan

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