Tarcísio de Freitas (Republicanos) foi eleito governador de São Paulo com 55,32% dos votos nas eleições de outubro. O ex-ministro da Infraestrutura do governo Jair Bolsonaro (PL) tomará posse do cargo neste domingo, 1º, e deu início a um novo ciclo no Estado, governado pelo PSDB desde 1995. No comando do Estado mais populoso do Brasil, Tarcísio terá inúmeros desafios durante a gestão. Para o cientista político Rui Tavares Maluf, as obras de expansão das linhas do metrô, a educação, a saúde e o relacionamento com apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro serão os mais desafiadores. Atualmente, existem planos para implantação de duas linhas do metrô: a 6-Laranja, que liga a estação São Joaquim, no centro, à Brasilândia, na zona norte; e a 17-Ouro, que parte do Morumbi, na zona oeste, e vai até o aeroporto de Congonhas, na zona sul. Há ainda duas obras de extensão: da linha 2-Verde, até a Penha, e da linha 15-prata, até as estações Jacu-Pêssego, na zona leste, e Ipiranga, na zona sul. Além disso, há estudos para construção da linha 19-Celeste e da linha 20-Rosa.
Também existe a expectativa de expansão da linha 9-Esmeralda da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), ligando as estações Bruno Covas/Mendes Vila Natal, entregue em 2021, e Varginha. "Não é uma questão se entrará dinheiro novo. É dar atenção a tudo que está sendo feito agora no campo da expansão. As obras no metrô são desafiadoras e merecem atenção", disse o especialista. "O metrô é sempre um desafio muito grande. O próximo governador vai herdar um número razoável de obras de expansão do metrô em mais de uma linha. O grande desafio para ele é conseguir fazer com que as obras tenham prazos cumpridos e lutar, se possível, para que se consigam novas expansão (pelo menos contratação) ainda no seu mandato. Obviamente exigirá uma boa articulação com o governo federal", destacou.
Outro ponto destacado por Maluf é a qualidade das rodovias paulistas e a privatização do Porto de Santos, algo defendido pelo novo governador de São Paulo. "Ele mostrou interesse em tentar convencer Lula sobre a importância de manter a privatização do Porto de Santos. Ainda que se trate de algo que envolve o governo federal, tem repercussão em São Paulo. É um desafio que muitos estarão atentos. Precisará de cintura política", disse. Segundo relatos feitos à Jovem Pan, Tarcísio deve buscar o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ainda em janeiro para tentar manter a privatização do Porto de Santos, algo já descartado pelo ex-governador de São Paulo e futuro ministro de Portos e Aeroportos, Márcio França. A ideia da equipe da futura gestão paulista é convencer o governo federal dos benefícios da privatização.
A segurança púbica também entra nesta lista. E o assunto é bastante delicado, afinal trata-se de uma das principais bandeiras de apoiadores de Jair Bolsonaro, que lançou e bancou a candidatura de Tarcísio em São Paulo. Antes mesmo de assumir, o ex-ministro da Infraestrutura teve que enfrentar uma crise causada pela indicação do deputado federal Guilherme Derrite (PL-SP) para a Secretaria de Segurança Pública. O parlamentar, que ingressou na Polícia Militar em 2007, foi tenente da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar) e alcançou o posto de capitão ao entrar para a reserva. À frente da segurança, Derrite estará à frente de coronéis, tenentes-coronéis e majores, patentes hierarquicamente superiores. O futuro governador também teve de lidar com a insatisfação de uma ala da Polícia Civil, que se viu preterida pela escolha do congressista. Para contornar a situação, o então delegado-geral da Civil, Osvaldo Nico Gonçalves, foi escolhido para a secretaria-executiva, número 2 da pasta. "Segurança Pública foi uma bandeira que ele levantou. Precisamos ter uma polícia preparada para combater o crime, mas temos que ter um serviço de inteligência e transparência para o cidadão. É uma outra coisa que precisa estar sendo objeto de atenção", diz Tavares Maluf. Durante a campanha eleitoral, Tarcísio defendeu a não utilização das câmeras em fardas da PM, mas voltou atrás, afirmando que o assunto será discutido.
É possível que o ex-ministro sofra bastante pressão dos apoiadores de Bolsonaro, a maioria do seu eleitorado. "A questão que coloco é: como ele irá conseguir, com suas características, equilibrar a pressão da ala apoiadora do ex-presidente e, ao mesmo tempo, sendo um governador que aceita diálogo", ressaltou. Para isso, ele conta com a ajuda de Gilberto Kassab, tido como um dos mais hábeis políticos. "Gostem ou não, é um excelente articulador. Ele tem ao seu lado gente que poderá vir a fazer esse trabalho de controlar a pressão", analisa o professor de ciência política.
O especialista se preocupa quando o assunto é educação. Ele não aprovou a escolha de Renato Feder como secretário do Estado por sua visão "privatista". "Para uma rede gigantesca como a de São Paulo, não dá para entrar com um visão privatista nela. Isso não pode ocorrer aqui", resume. Ele também se mostra curioso sobre como o governador vai gerir a Saúde. Uma das pautas defendidas por Tarcísio durante sua campanha foi o fim da obrigatoriedade da vacina contra a Covid-19 para os servidores públicos. A proposta, no entanto, deve ser deixada de lado. "São Paulo está muito avançada com a vacinação. Veremos como ele vai trabalhar na questão da saúde. Se daremos novos passos, afinal a vacina não se diz respeito do indivíduo, mas tem a ver com a sociedade", finalizou.
Fonte: Jovem Pan