A Antártica esconde muitos segredos debaixo de todo seu gelo. O continente mais frio do planeta tem muitos mistérios ainda para serem descobertos. Embora seu clima e sua posição geográfica longe de tudo façam com que ali seja um dos locais mais inexplorados do mundo, os cientistas fizeram algumas descobertas importantes em 2022.
Um ecossistema nunca antes observado foi identificado em um rio subterrâneo abaixo da plataforma de gelo Larsen. A descoberta nas profundezas geladas da Antártica foi feita usando uma broca de água quente enorme que perfurou o gelo.
A 500 metros abaixo do gelo, os cientistas encontraram o habitat de milhares de crustáceos anfÃpodes. A estrutura foi descoberta após os pesquisadores analisarem um sulco incomum em uma imagem de satélite.
Essa descoberta não é uma exclusividade da Antárctica, pois existe nos dois polos terrestres. Equipes distintas de pesquisadores descobriram fitoplânctons crescendo em lugares até então impossÃveis, nas profundezas dos oceanos gelados.
Anteriormente, pensava-se que o gelo não permitia a passagem de luz o suficiente para o crescimento de seres fotossintetizantes. No entanto, os cientistas descobriram que as algas não precisam de mais do que 1% da luz da superfÃcie para produzirem seu alimento.
Na Antártica, a descoberta foi feita por meio de flutuadores de mergulho profundo. Eles buscavam determinar a quantidade de clorofila nas águas sob o gelo quando descobriram os fitoplânctons. Os pesquisadores também apontaram que as mudanças climáticas e a consequente diminuição das geleiras podem ter aumentando a quantidade de luz que as algas recebem nesses locais.
Em coletas no mar de Scotia, na Antártica, cientistas descobriram o DNA de microrganismos que datam de 540 mil a 1 milhão de anos atrás. A descoberta foi feita acidentalmente a cerca de 178 metros no fundo do mar.
Não se sabe a qual espécie pertence o material genético mais antigo, mas as amostras mais novas provavelmente são de fitoplâncton diatomáceas. Essa espécie viveu na Terra durante um antigo aquecimento global e pode mostrar aos pesquisadores como as espécies antárticas vão se comportar nas mudanças climáticas causadas pela humanidade.
Um monitoramento do Oceano Antártico mapeou o ponto mais profundo do local. O "Factorian Deep" está localizado a 7.437 metros abaixo do nÃvel do mar e foi descoberto em 2019, mas somente em 2022 a área foi totalmente mapeada.
O mapeamento foi feito a partir de mais de 1,2 mil dados de sonar, vindos principalmente de embarcações cientÃficas que navegam pelo oceano Antártico. Foram mapeados mais de 48 milhões de quilômetros quadrados do fundo do mar, que os cientistas esperam usar para identificar montanhas subaquáticas que podem ser locais habitados por vida marinha.
A Geleira do JuÃzo Final é um apelido para a geleira Thwaites, localizada na Antárctica, que tem o tamanho do Reino Unido. Essa nomenclatura se deve ao fato de que seu derretimento total pode elevar o nÃvel do mar em 0,9 a três metros.
Robôs subaquáticos observaram por debaixo dela e ofereceram aos cientistas imagens que mostram que a estrutura está prestes a se desprender do fundo do mar. Caso se desprenda, ela pode deixar de existir devido à rápida movimentação ocasionada pela marés e um pico de perda de gelo.
Um estudo do fundo do mar próximo à geleira revelou uma série de nervuras no solo oceânico que foram causadas pela movimentação da geleira durante perÃodos de recuo nos últimos dois séculos e que são desconhecidos pelos cientistas.
A preocupação é que as mudanças climáticas provoquem esses derretimentos novamente.
Um rio subterrâneo foi encontrado por cientistas usando um radar de penetração de gelo acoplado em aviões. O rio corre por baixo de quatro massas de gelo e é mais longo que o Rio Tâmisa, em Londres, na Inglaterra.
O rio subaquático é responsável por drenar o gelo para o Mar de Weddell, uma região maior que o tamanho da França e da Alemanha somados. Caso a área derreta por completo, devido às mudanças climáticas, o nÃvel do mar aumentaria 4,3 metros.
Acredita-se que esse não é o único rio a fluir pela região e que ele faça parte de um sistema de rios subterrâneos que correm por debaixo de todo continente.
Com cerca de 135 quilômetros de comprimento por 26 de largura, o iceberg A-76A é o maior do mundo. Ele se desprendeu da plataforma de gelo antártica Ronne em 2021 e, neste ano, foi visto pelo satélite Terra, da NASA, flutuando na foz da Passagem de Drake.
Geralmente, quando os icebergs chegam nesse local, eles são arrastados pelas correntes oceânicas até atingirem as águas mais ao norte do continente gelado, mais quentes, onde eles derretem em seguida.
Todo esse percurso normalmente acontece em um perÃodo muito rápido. Mas ainda não é possÃvel apontar com certeza onde o A-76A deixará de existir.
Cerca de 60 milhões de ninhos de peixes da espécie Chaenocephalus aceratus, popularmente chamados de peixes-gelo, foram descoberto no Mar de Weddell. Pesquisadores os encontraram aleatoriamente quando navegavam em um navio quebra-gelo que estava estudando baleias.
Os ninhos foram descobertos espalhados pelo fundo mar, em uma área de cerca de 240 quilômetros quadrados. Eles estavam separados por cerca de 25 centÃmetros e continham uma média de 1,7 mil ovos de peixes-gelo. Cada um dos ninhos abrigava um peixe-mãe que o vigiava.
Além disso, a área estava coberta de carcaças de peixes-gelo que provavelmente serviram de alimento para focas antárticas e passaram a integrar o ecossistema.
Um lago com cerca de 370 quilômetros quadrados foi descoberto debaixo do gelo da Antártica Ocidental. Ele se encontra em um desfiladeiro de 1,6 quilômetros de profundidade e sob mais de três quilômetros de gelo.
A descoberta do lago, que recebeu o nome de Lake Snow Eagle, foi feita após três anos usando radares capazes de penetrar o gelo e sensores que foram projetados para observar mudanças na gravidade da Terra.
Acredita-se que o lago exista desde antes do congelamento da Antártica e possui sedimentos fluviais de mais de 34 milhões anos de idade. Essa descoberta pode lançar luz sobre como era o continente antes de ficar coberto por neve.
Esta é outra das descobertas que dizem respeito aos dois polos da Terra. Em 2022, tanto o Ártico quanto a Antártica passaram por ondas de calor que elevaram muito a temperatura da região. O curioso é que elas aconteciam simultaneamente nos dois lugares.
No polo sul, a temperatura foi 4,8°C acima da média, enquanto no norte, a média de temperatura foi 3,3°C mais quente que o normal.
A descoberta é intrigante, porque os polos têm estações contrastantes. Enquanto um está na época de degelo, o outro está congelando. O que surpreende ainda mais os cientistas nas ondas de calor é que as temperaturas na Antártica geralmente são mais constantes que as do Ártico.
Fonte: Olhar Digital