A Pfizer anunciou, na quarta-feira (11), que deu início à comercialização do antiviral Paxlovid (nirmatrelvir + ritonavir), seu medicamento oral para o tratamento da covid-19. O remédio, uma caixa de 30 comprimidos, já pode ser adquirido direto nas farmácias do país, no entanto, por um alto custo: R$ 4.856, conforme apuração do G1. O valor mais baixo encontrado foi de R$ 4.613,89.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou em novembro de 2022, por unanimidade, a venda do antiviral em farmácias e hospitais particulares do país. O tratamento está disponível apenas para pacientes que apresentem prescrição médica.
Vale lembrar que o medicamento também já está disponível pelo SUS. Seu registro para uso emergencial foi aprovado em março de 2022 pela Anvisa. O tratamento foi incorporado à rede pública para os seguintes grupos de pacientes, independentemente da condição vacinal: imunossuprimidos a partir de 18 anos e idosos com 65 anos ou mais que apresentem quadros leves a moderados, sem necessidade de suplementação de oxigênio.
Para ter acesso ao medicamento pelo SUS, além de se enquadrar no perfil do público-alvo especificado pelo governo, o paciente deve ter um exame positivado (o que não inclui o autoteste) e a prescrição médica, realizada por meio de um formulário disponível no site do Ministério da Saúde. Com a documentação de liberação em mãos, o paciente pode ir a um posto indicado e retirar o tratamento.
"Avançamos mais um passo em nossa trajetória de combate ao coronavírus. Atuamos na prevenção da Covid-19 com nossas vacinas e com Paxlovid temos a oportunidade de ajudar no tratamento de pacientes infectados. Nosso antiviral, que já está disponível no sistema público de saúde, agora, após a última aprovação da Anvisa, pôde ter sua oferta ampliada para o mercado privado, marco importante diante do atual aumento de casos da doença no país", disse a Diretora da Área de Covid-19 da Pfizer Brasil, Lucila Mouro, em nota.
Paxlovid é um novo inibidor de protease desenvolvido pela Pfizer especificamente para bloquear a atividade da enzima 3LC, uma das responsáveis pela replicação do coronavírus no corpo. O medicamento demonstrou consistente atividade antiviral in vitro contra as principais variantes de preocupação identificadas (Alfa, Beta, Delta, Gama, Lambda, Um, além de Ômicron BA.1, BA.2. e BA.4).
O medicamento é indicado para o tratamento da doença em adultos que não requerem oxigênio suplementar e que apresentam risco aumentado de progressão para Covid-19 grave. Ele deve ser administrado, assim que possível, após o resultado positivo do teste diagnóstico para o Sars-CoV-2 e avaliação médica, e no prazo de cinco dias após o início dos sintomas — composto por dois comprimidos, eles devem ser tomados juntos por cinco dias.
O Paxlovid, da Pfizer, recebeu a autorização de uso emergencial da Food and Drug Administration (FDA), agência regulatória sanitária dos Estados Unidos e da Agência Europeia de Medicamentos, em dezembro de 2021. Assim como o Molnupiravir, da MSD, teve o aval da FDA para seu uso emergencial. As autoridades britânicas de saúde também aprovaram o tratamento com ela no começo de novembro daquele mesmo ano, um mês depois que a Fiocruz havia anunciado que estudava uma parceria para produzir o medicamento em território brasileiro.
Para entender quais são as diferenças entre essas medicações de combate à covid-19, ouvimos a biomédica Rute Alves Pereira e Costa, mestre em fisiopatologia médica e doutora em ciências pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Com pós-doutorado pela Harvard Medical School, ela é uma das integrantes da Sociedade Brasileira de Valorização das Especialidades Médicas.
De acordo com a especialista, curiosamente, há mais estudos sobre o uso da ivermectina e da hidroxicloroquina para tratar a covid-19 que das novas patentes da Pfizer e da MSD. Todas os quatro medicamentos "funcionam como antivirais" e têm indicação de uso precoce. Dois deles, Paxlovid e a ivermectina, inclusive, agem na mesma molécula do vírus.
Por que podemos falar em tratamento precoce no caso das medicações contra a covid-19 lançadas pelos laboratórios MSD e Pfizer?
A indicação dos dois medicamentos é para uso de três a cinco dias de início dos sintomas. Isso faz total sentido em qualquer doença. No caso de um tumor maligno, por exemplo, ninguém espera que ele fique do tamanho de uma laranja para começar a se tratar, trata no início. Se possível, médicos lançam mão de medidas preventivas que impeçam o surgimento da doença. No caso da covid-19 não é diferente. No início, é onde a replicação viral é mais acentuada. Se há uma intervenção já nessa etapa, esse processo é inibido e não há progressão para fases mais avançadas e também mais graves.
De que maneira a utilização dessas novas medicações se assemelha ao uso de ivermectina e de hidroxicloroquina?
Todas as quatro drogas são antivirais e devem ser utilizadas nas fases iniciais da doença. A hidroxicloroquina previne a entrada do vírus principalmente através do aumento da acidez num compartimento celular chamado endossomo, impedindo assim a replicação viral. Ela é altamente eficaz na redução da replicação viral, sobretudo, por ter uma boa capacidade de penetração em tecidos, em especial, no tecido pulmonar. Um dos principais mecanismos de ação da ivermectina é impedir que o vírus se ligue à célula na região viral 3CLpro, do mesmo jeito que o Paxlovid, da Pfizer, se propõe a fazer. Ou seja: Paxlovid e a ivermectina agem na mesma região do vírus.
Em que essas quatro medicações são diferentes entre si?
O Molnupiravir, desenvolvido pela MSD, age causando mutações na proteína que o vírus usa para se replicar. Isso difere das ações da hidroxicloroquina, ivermectina e da droga da Pfizer, que não causam mutações em proteínas virais. A hidroxicloroquina interfere na acidez dentro da célula e a ivermectina, assim como o Paxlovid, bloqueia uma proteína viral.
Os produtos da Pfizer e da MSD passaram por testes padrão ouro antes de terem seu uso emergencial aprovado?
Sim, a Merck publicou os resultados de um ensaio clínico com 1,4 mil pessoas. De acordo com os dados, a pílula reduziu o risco de hospitalizações e morte em 30%, uma diminuição significativa, mas menor do que o anunciado anteriormente (50%). A Pfizer também anunciou os resultados interinos do seu estudo Fase II/III, randomizado duplo-cego de pacientes adultos não hospitalizados com covid-19, que apresentam alto risco de progredir para doença grave. O antiviral oral Paxlovid mostrou redução significativa de hospitalização e morte.
O uso de ivermectina e hidroxicloroquina no tratamento da covid-19 foi estudado com o mesmo rigor científico?
Sim e existem até mais publicações sobre ivermectina e hidroxicloroquina. É importante dizer que, segundo a medicina baseada em evidências, os ensaios clínicos randomizados controlados (ECR) começam a ser, de fato, as evidências mais desejáveis para indicação de tratamento de determinada doença, seguidos das revisões sistemáticas e, por fim, as meta-análises. O que temos até o momento para as drogas da Merck e Pfizer são os ensaios clínicos randomizados de fases II/III. No caso da ivermectina já existem mais de 60 estudos (sendo 31 ECR com mais de 5 mil pacientes). Para a hidroxicloroquina não é diferente. Para ambos, contudo, não há aprovação das agências regulatórias para uso na covid-19.
Uma coisa deve ser registrada: a ivermectina, por não haver patentes é, seguramente, um medicamento de custo significativamente inferior às novas descobertas
Com informações de Olhar Digital e Revista Oeste